Habacuque 1.12 – 2.5
Introdução: Vimos
na reflexão anterior que o profeta Habacuque tinha questionado a Deus pelo fato
de haver muita impiedade e injustiça no meio do povo de Judá. A nação estava
corrompida, todo o esforço do rei Josias em ter uma nação que buscasse a Deus
estava sendo destruída pelo reinado e geração seguinte, o profeta não entendia
como Deus estava deixando isso acontecer no meio de seu povo. O profeta
Habacuque interpela Deus para que Ele manifeste seu juízo sobre Judá.
A
resposta de Deus vem como um soco forte sobre o profeta. Deus certamente
manifestaria o seu juízo. Os Babilônicos, uma nação cruel e idolatra, seria o
seu instrumento de juízo sobre a nação de Judá. Os Caldeus estavam num frenesi
de conquistas, conquistaram a Assíria, derrotaram o Egito e agora viriam para
subjugar o povo de Judá. Ou seja, Deus não estava inerte em seu trono, a sua
justiça e santidade seriam satisfeitas por meio de seu juízo.
Essa
resposta não foi bem recebida pelo profeta, pois logo depois de recebe-la ele
entra em crise e lança outra pergunta a Deus. Que basicamente é uma dúvida de
como um Deus santo pode usar uma nação vil para punir o povo da aliança divina.
Para Habacuque não fazia sentido algum o fato de uma nação mais ímpia que Judá
ser o instrumento usado por Deus para puni-los.
A
segunda pergunta de Habacuque também não fica sem resposta. Deus não estava cego
para a impiedade e injustiça dos caldeus. A sua santidade e justiça exigem uma
vida santa e justa de todos, e os que não responderem a santidade e justiça
divinas certamente serão punidos pela sua desobediência. Nas palavras ditadas
ao profeta, O ímpio está envaidecido;
seus desejos não são bons; mas o justo viverá por sua fidelidade (Hb 2.4).
Mas
vejamos a dúvida de Habacuque e a resposta de Deus mais de perto, para uma
melhor compreensão do texto.
A segunda queixa de Habacuque (1.12 – 2.1). Após
receber a sua primeira resposta, o profeta dirige outro salmo em forma de
lamento a Deus, lamento por uma resposta que desmonta toda a teologia de Habacuque.
Habacuque
começa a sua segunda queixa com uma pergunta retórica. Que tem como propósito
evidenciar a eternidade de Deus. Essa eternidade mencionada é para mostrar
que Ele é Deus real e verdadeiro que existe desde sempre e não um Deus subjetivo
dos caldeus. Como pode a Rocha que é desde a eternidade ser derrotado pelo deus
caldeu? (1.12)
O
profeta continua seu lamento falando dos atributos de Deus, como a santidade e
justiça (1.13). O profeta se refere a esses atributos pois para ele não é possível
um Deus santo e justo utilizar um instrumento injusto para cumprir seus
propósitos. Para Habacuque qualquer associação com o mal é pecado. Deus não
poderia estar associado com uma nação como a babilônica. Para Habacuque não faz
o menor sentido Deus usar uma nação mais impura que Israel para puni-los.
Nos
versos seguintes (1.14-15), Habacuque expõe de forma metafórica a forma cruel
que os babilônicos subjugavam as nações. Como peixes que são arrancados de seu
ambiente, assim fariam os caldeus com o povo de Judá. O povo de Judá não seria
simplesmente punido pela força dos caldeus, mas também arrancados de sua terra,
da terra da promessa.
Próximo
ao fim de seu lamento outra questão é levantada pelo profeta (1.16-17). A
vitória da Babilônia causava outro problema teológico no pensamento de
Habacuque. A derrota de Judá significaria a derrota de Deus. Pois na sua
vitória, os caldeus cultuariam o seu deus e não Javé.
Depois
de questionar Deus, Habacuque se coloca, como um militar, em sua torre de vigia
aguardando Deus responder os seus questionamentos (2.1).
A resposta a queixa do profeta (2.2-5). Deus
fala ao profeta, mas não responde diretamente seus questionamentos.
Quando
Deus responde ao profeta Ele quer deixar claro que não é para satisfazer à
vontade ou duvida do profeta, mas para deixar uma mensagem vivida e clara para
todos (2.2). Uma mensagem que deve ser preservada e anunciada a todos. Uma
mensagem com data determinada para acontecer (2.3), não se cumprirá por vontade
humana, mas cumprirá os propósitos de Deus na história.
Essa
mensagem evidencia o triunfo do justo sobre o injusto (2.4-5). O triunfo da
fidelidade é contrastado com a agitação arrogante e a falta de realização
daqueles que não dependem de Deus.
De
forma dialética é apresentada a forma de viver do ímpio em comparação com a do
justo. O ímpio está aprisionado por sua cobiça que nunca se satisfaz. Os seus
desejos são sempre maus. Desejos esses que nunca conseguem ficar satisfeitos,
pois são vorazes com a morte e a sepultura. Enquanto o justo vivi por sua fé ou
fidelidade.
O
texto continua descrevendo a punição que recairá sobre os ímpios, especialmente
sobre os babilônicos, com os 5 aís de Deus.
Mas a
partir da resposta dada por Deus a queixa de Habacuque vejamos algumas
aplicações práticas extraídas do texto.
- Uma resposta a ansiedade.
Vemos no texto um profeta ansioso com a
realidade de seu povo e com a resposta dura que ouviu de Deus. O fato de não
estar alienado como vimos na última reflexão pode ter deixado o profeto tenso
com a situação.
Habacuque estava aflito com a realidade de seu povo e mais aflito
ficou quando descobriu que o povo ímpio da Babilônia seria o instrumento de
juízo divino. Isso o deixou cheio de dúvidas e questões, até de ordem
teológicas. Mas Deus em sua resposta traz uma mensagem de conforto e
encorajamento ao profeta. Mesmo diante de um quadro difícil, Deus estava agindo
e o pecado de ninguém escaparia de punição, nem Judá, nem Babilônia. O ímpio
será punido por sua postura cruel. Deus não desamparou o profeta e nem o seu
povo.
Mesmo que os
momentos não sejam muito favoráveis e pareça que Deus nos abandonou ou que está
assistindo tudo em seu trono sem interferir, Ele ainda está no controle de
tudo.
Deus não nos
abandona. Como Deus fala ao profeta Jeremias, "Sou eu apenas um Deus de perto", pergunta o Senhor, "e
não também um Deus de longe? (Jeremias 23:23). Deus não é Deus apenas
quando podemos senti-lo ou vemos a sua manifestação com clareza, ou ainda,
quando tudo vai bem. Deus é Deus mesmo quando parece que Ele está distante, ou
quando as coisas vão mal.
Deus não é um relojoeiro que criou o relógio
e abandonou a sua própria sorte. Mas Ele criar, sustenta e governa a sua obra.
Com isso, somos convidados a confiar nele,
mesmo que as respostas pareçam as mais absurdas, ou mesmo nos momentos mais
difíceis. Deus nunca nos desampara. A nossa ansiedade de ser derrotada pelo fato de Deus ser o Senhor de
nossas vidas, e como Senhor certamente ele está cuidando de nós.
- Deus não nos desempara, pois Ele é o Deus
da História.
O Senhor mostra ao profeta que nada está
fora de seu domínio e que Ele não foi pego de surpresa. Deus revela ao profeta que a sua mão continua a conduzir a História.
Por mais que os babilônicos fossem uma nação cruel e derrotassem Judá, isso não
faria de Deus um ente secundário na história. Deus é tão soberano na história
que usaria a crueldade dos caldeus como instrumento para cumprir seus propósitos
na nação de Judá.
Além disso, os caldeus também estavam sobre a
sua soberania. Pois chegará um dia onde o reino eterno de Deus se manifestará.
E sua mensagem não falhará. Essa mensagem que Deus fala para o profeta escrever não aponta simplesmente
para a derrota dos babilônicos, mas também para era messiânica e o cumprimento
escatológico da obra de redenção.
A História não é cíclica e fica dando voltas
ininterruptamente. Também não é um caminhão desgovernado que desce ladeira abaixo
sem controle. A História está nas mãos do nosso Senhor e Ele a conduzirá para o
cumprimento de sua vontade.
Nós não somos filhos do acaso, somos filhos
do Senhor da História. Por isso, devemos confiar no seu cuidado e na sua
soberania. O nosso Senhor está com as rédeas da História na mão. O nosso Senhor não é apenas o Senhor das nossas vidas, mas o Senhor
de toda a História. Por isso, os seus planos nunca serão frustrados.
- O Juízo é uma realidade.
Deus revela a Habacuque que Ele é um Deus
que efetua a justiça. Esse Deus que está cuidando de seu povo, mesmo em
momentos difíceis, esse que tem a rédea da história nas mãos, também é o Deus
que fará sua justiça ser satisfeita.
O profeta recebe o oráculo divino de que a justiça divina será
satisfeita. O profeta estava certo em sua teologia em crer em um Deus santo e
justo, mesmo errado nas formas de Deus executar juízo e santidade.
Habacuque recebe um oráculo deque Deus
executará sua justiça para ver sua santidade satisfeita. Não simplesmente com
relação aos caldeus, mas a todos. Pois uma mensagem duradoura e visível deveria
ser escrita (2.2-3).
A justiça de Deus e a sua santidade nunca serão negligenciadas,
certamente serão satisfeitas. O nosso Senhor não é irresponsável ou
injusto de vendar seus olhos para fingir não ver o pecado no meio do povo e com
isso aceitar todos. Se fosse dessa forma o Senhor Jesus não precisaria vir para
morrer em nosso lugar.
Somos lembrados que Deus fez e à de fazer
justiça. Ele fez justiça em Cristo Jesus, fazendo dEle pecado em nosso lugar. E
à de fazer naquele grande e terrível dia.
Essa mensagem deve
ser escrita em letras garrafais para que todos vejam com clareza. Essa mensagem
foi confiada a nós, o seu povo e nossa tarefa é faze-la conhecida de todos.
Devemos tomar a nossa responsabilidade de “profetas” de Deus e
anunciar a justiça divina. A justiça realizada em Cristo e a justiça para
aqueles que não se rendem ao seu senhorio.
- O justo vive por sua fé/fidelidade
Todo oráculo de Deus se concentra em um
ponto, o justo vive por sua fé/fidelidade. Aquele que permanecerá mesmo diante
das intemperes da realidade e mesmo diante do juízo divino será o justo.
Quando Deus responde a queixa do profeta, Ele faz uma comparação
entre o ímpio e o justo, falando que o justo permaneceria e o ímpio pereceria,
uma característica é evidenciada para que o nome de justo seja atribuído ao seu
portador, a sua fé ou fidelidade.
No verso quatro o termo traduzido por fé em algumas de nossas
versões ou como fidelidade em outras, o correto de entender esse texto é a
junção das duas palavras. Pois a fé para o hebreu se materializa na sua
fidelidade a Deus. Aquele que tem fé,
demostra sua fé por meio de uma fidelidade continua a seu Deus.
A fé autentica é como uma árvore bem
plantada e cuidada que logo é reconhecida pelos seus frutos de fidelidade.
Fé aqui no texto, mesmo texto usado por
Paulo em Romanos 1.17, não é uma mera crença vazia de significado, mas sim um
compromisso autentico de exercitar essa fé seguindo a Deus, sendo obediente a
Ele.
Nas palavras de
Tiago, mas alguém dirá: "Você tem
fé; eu tenho obras". Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a
minha fé pelas obras (Tg 2.18). A fé e a fidelidade sempre andam juntas. Não existe uma fé que não
fica clara em uma vida que dá frutos de fidelidade.
Conclusão
Aprendemos com
a luta do profeta Habacuque que não devemos ficar ansiosos com os momentos
difíceis da vida ou pelo menos lutar contra eles, mesmo que o horizonte não mostre boas coisas. Pois servimos
um Deus que é fiel com o seu povo e cuida dele; servimos um Deus que é o senhor
da história, e os seus propósitos não serão frustrados. Servimos a um Deus santo
e justo que fará justiça, e nos torna porta-vozes dessa mensagem. Mas o nosso
serviço deve ser evidenciado em uma fé servil que produz frutos de fidelidade.
Que o Senhor nos ajude em nossa caminhada.
Fontes de Pesquisa
- BAKER, David Weston. Obadias, Naum, Habacuque, Sofonias. São Paulo: Vida Nova, 2001.
- Bíblia Sagrada versão NVI
- CARSON, D. A. Comentário bíblico: Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2009.
- DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2006.
- LOPES, Hernandes Dias. Habacuque: como transformar o desespero em cântico de vitória. São Paulo: Hagnos, 2007.
- SAYÃO, Luiz. O problema do mal no antigo testamento: o caso de Habacuque. São Paulo: Hagnos, 2012.
Soli Deo gloria!
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