sábado, 20 de agosto de 2016

Habacuque 2

Habacuque 1.12 – 2.5
Introdução: Vimos na reflexão anterior que o profeta Habacuque tinha questionado a Deus pelo fato de haver muita impiedade e injustiça no meio do povo de Judá. A nação estava corrompida, todo o esforço do rei Josias em ter uma nação que buscasse a Deus estava sendo destruída pelo reinado e geração seguinte, o profeta não entendia como Deus estava deixando isso acontecer no meio de seu povo. O profeta Habacuque interpela Deus para que Ele manifeste seu juízo sobre Judá.
A resposta de Deus vem como um soco forte sobre o profeta. Deus certamente manifestaria o seu juízo. Os Babilônicos, uma nação cruel e idolatra, seria o seu instrumento de juízo sobre a nação de Judá. Os Caldeus estavam num frenesi de conquistas, conquistaram a Assíria, derrotaram o Egito e agora viriam para subjugar o povo de Judá. Ou seja, Deus não estava inerte em seu trono, a sua justiça e santidade seriam satisfeitas por meio de seu juízo.
Essa resposta não foi bem recebida pelo profeta, pois logo depois de recebe-la ele entra em crise e lança outra pergunta a Deus. Que basicamente é uma dúvida de como um Deus santo pode usar uma nação vil para punir o povo da aliança divina. Para Habacuque não fazia sentido algum o fato de uma nação mais ímpia que Judá ser o instrumento usado por Deus para puni-los.
A segunda pergunta de Habacuque também não fica sem resposta. Deus não estava cego para a impiedade e injustiça dos caldeus. A sua santidade e justiça exigem uma vida santa e justa de todos, e os que não responderem a santidade e justiça divinas certamente serão punidos pela sua desobediência. Nas palavras ditadas ao profeta, O ímpio está envaidecido; seus desejos não são bons; mas o justo viverá por sua fidelidade (Hb 2.4).
Mas vejamos a dúvida de Habacuque e a resposta de Deus mais de perto, para uma melhor compreensão do texto.
A segunda queixa de Habacuque (1.12 – 2.1). Após receber a sua primeira resposta, o profeta dirige outro salmo em forma de lamento a Deus, lamento por uma resposta que desmonta toda a teologia de Habacuque.
Habacuque começa a sua segunda queixa com uma pergunta retórica. Que tem como propósito evidenciar a eternidade de Deus. Essa eternidade mencionada é para mostrar que Ele é Deus real e verdadeiro que existe desde sempre e não um Deus subjetivo dos caldeus. Como pode a Rocha que é desde a eternidade ser derrotado pelo deus caldeu? (1.12)
O profeta continua seu lamento falando dos atributos de Deus, como a santidade e justiça (1.13). O profeta se refere a esses atributos pois para ele não é possível um Deus santo e justo utilizar um instrumento injusto para cumprir seus propósitos. Para Habacuque qualquer associação com o mal é pecado. Deus não poderia estar associado com uma nação como a babilônica. Para Habacuque não faz o menor sentido Deus usar uma nação mais impura que Israel para puni-los.
Nos versos seguintes (1.14-15), Habacuque expõe de forma metafórica a forma cruel que os babilônicos subjugavam as nações. Como peixes que são arrancados de seu ambiente, assim fariam os caldeus com o povo de Judá. O povo de Judá não seria simplesmente punido pela força dos caldeus, mas também arrancados de sua terra, da terra da promessa.
Próximo ao fim de seu lamento outra questão é levantada pelo profeta (1.16-17). A vitória da Babilônia causava outro problema teológico no pensamento de Habacuque. A derrota de Judá significaria a derrota de Deus. Pois na sua vitória, os caldeus cultuariam o seu deus e não Javé.
Depois de questionar Deus, Habacuque se coloca, como um militar, em sua torre de vigia aguardando Deus responder os seus questionamentos (2.1).
A resposta a queixa do profeta (2.2-5). Deus fala ao profeta, mas não responde diretamente seus questionamentos.
Quando Deus responde ao profeta Ele quer deixar claro que não é para satisfazer à vontade ou duvida do profeta, mas para deixar uma mensagem vivida e clara para todos (2.2). Uma mensagem que deve ser preservada e anunciada a todos. Uma mensagem com data determinada para acontecer (2.3), não se cumprirá por vontade humana, mas cumprirá os propósitos de Deus na história.
Essa mensagem evidencia o triunfo do justo sobre o injusto (2.4-5). O triunfo da fidelidade é contrastado com a agitação arrogante e a falta de realização daqueles que não dependem de Deus.
De forma dialética é apresentada a forma de viver do ímpio em comparação com a do justo. O ímpio está aprisionado por sua cobiça que nunca se satisfaz. Os seus desejos são sempre maus. Desejos esses que nunca conseguem ficar satisfeitos, pois são vorazes com a morte e a sepultura. Enquanto o justo vivi por sua fé ou fidelidade.
O texto continua descrevendo a punição que recairá sobre os ímpios, especialmente sobre os babilônicos, com os 5 aís de Deus.
Mas a partir da resposta dada por Deus a queixa de Habacuque vejamos algumas aplicações práticas extraídas do texto.
  1. Uma resposta a ansiedade.
Vemos no texto um profeta ansioso com a realidade de seu povo e com a resposta dura que ouviu de Deus. O fato de não estar alienado como vimos na última reflexão pode ter deixado o profeto tenso com a situação.
Habacuque estava aflito com a realidade de seu povo e mais aflito ficou quando descobriu que o povo ímpio da Babilônia seria o instrumento de juízo divino. Isso o deixou cheio de dúvidas e questões, até de ordem teológicas. Mas Deus em sua resposta traz uma mensagem de conforto e encorajamento ao profeta. Mesmo diante de um quadro difícil, Deus estava agindo e o pecado de ninguém escaparia de punição, nem Judá, nem Babilônia. O ímpio será punido por sua postura cruel. Deus não desamparou o profeta e nem o seu povo.
Mesmo que os momentos não sejam muito favoráveis e pareça que Deus nos abandonou ou que está assistindo tudo em seu trono sem interferir, Ele ainda está no controle de tudo.
Deus não nos abandona. Como Deus fala ao profeta Jeremias, "Sou eu apenas um Deus de perto", pergunta o Senhor, "e não também um Deus de longe? (Jeremias 23:23). Deus não é Deus apenas quando podemos senti-lo ou vemos a sua manifestação com clareza, ou ainda, quando tudo vai bem. Deus é Deus mesmo quando parece que Ele está distante, ou quando as coisas vão mal.
Deus não é um relojoeiro que criou o relógio e abandonou a sua própria sorte. Mas Ele criar, sustenta e governa a sua obra.
Com isso, somos convidados a confiar nele, mesmo que as respostas pareçam as mais absurdas, ou mesmo nos momentos mais difíceis. Deus nunca nos desampara. A nossa ansiedade de ser derrotada pelo fato de Deus ser o Senhor de nossas vidas, e como Senhor certamente ele está cuidando de nós.
  1. Deus não nos desempara, pois Ele é o Deus da História.
O Senhor mostra ao profeta que nada está fora de seu domínio e que Ele não foi pego de surpresa. Deus revela ao profeta que a sua mão continua a conduzir a História. Por mais que os babilônicos fossem uma nação cruel e derrotassem Judá, isso não faria de Deus um ente secundário na história. Deus é tão soberano na história que usaria a crueldade dos caldeus como instrumento para cumprir seus propósitos na nação de Judá.
Além disso, os caldeus também estavam sobre a sua soberania. Pois chegará um dia onde o reino eterno de Deus se manifestará. E sua mensagem não falhará. Essa mensagem que Deus fala para o profeta escrever não aponta simplesmente para a derrota dos babilônicos, mas também para era messiânica e o cumprimento escatológico da obra de redenção.
A História não é cíclica e fica dando voltas ininterruptamente. Também não é um caminhão desgovernado que desce ladeira abaixo sem controle. A História está nas mãos do nosso Senhor e Ele a conduzirá para o cumprimento de sua vontade.
Nós não somos filhos do acaso, somos filhos do Senhor da História. Por isso, devemos confiar no seu cuidado e na sua soberania. O nosso Senhor está com as rédeas da História na mão. O nosso Senhor não é apenas o Senhor das nossas vidas, mas o Senhor de toda a História. Por isso, os seus planos nunca serão frustrados.
  1. O Juízo é uma realidade.
Deus revela a Habacuque que Ele é um Deus que efetua a justiça. Esse Deus que está cuidando de seu povo, mesmo em momentos difíceis, esse que tem a rédea da história nas mãos, também é o Deus que fará sua justiça ser satisfeita.
O profeta recebe o oráculo divino de que a justiça divina será satisfeita. O profeta estava certo em sua teologia em crer em um Deus santo e justo, mesmo errado nas formas de Deus executar juízo e santidade.
Habacuque recebe um oráculo deque Deus executará sua justiça para ver sua santidade satisfeita. Não simplesmente com relação aos caldeus, mas a todos. Pois uma mensagem duradoura e visível deveria ser escrita (2.2-3).
A justiça de Deus e a sua santidade nunca serão negligenciadas, certamente serão satisfeitas. O nosso Senhor não é irresponsável ou injusto de vendar seus olhos para fingir não ver o pecado no meio do povo e com isso aceitar todos. Se fosse dessa forma o Senhor Jesus não precisaria vir para morrer em nosso lugar.
Somos lembrados que Deus fez e à de fazer justiça. Ele fez justiça em Cristo Jesus, fazendo dEle pecado em nosso lugar. E à de fazer naquele grande e terrível dia.
Essa mensagem deve ser escrita em letras garrafais para que todos vejam com clareza. Essa mensagem foi confiada a nós, o seu povo e nossa tarefa é faze-la conhecida de todos.
Devemos tomar a nossa responsabilidade de “profetas” de Deus e anunciar a justiça divina. A justiça realizada em Cristo e a justiça para aqueles que não se rendem ao seu senhorio.
  1. O justo vive por sua fé/fidelidade
Todo oráculo de Deus se concentra em um ponto, o justo vive por sua fé/fidelidade. Aquele que permanecerá mesmo diante das intemperes da realidade e mesmo diante do juízo divino será o justo.
Quando Deus responde a queixa do profeta, Ele faz uma comparação entre o ímpio e o justo, falando que o justo permaneceria e o ímpio pereceria, uma característica é evidenciada para que o nome de justo seja atribuído ao seu portador, a sua fé ou fidelidade.
No verso quatro o  termo traduzido por fé em algumas de nossas versões ou como fidelidade em outras, o correto de entender esse texto é a junção das duas palavras. Pois a fé para o hebreu se materializa na sua fidelidade a Deus. Aquele que tem fé, demostra sua fé por meio de uma fidelidade continua a seu Deus.
A fé autentica é como uma árvore bem plantada e cuidada que logo é reconhecida pelos seus frutos de fidelidade.
Fé aqui no texto, mesmo texto usado por Paulo em Romanos 1.17, não é uma mera crença vazia de significado, mas sim um compromisso autentico de exercitar essa fé seguindo a Deus, sendo obediente a Ele.
Nas palavras de Tiago, mas alguém dirá: "Você tem fé; eu tenho obras". Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras (Tg 2.18). A fé e a fidelidade sempre andam juntas. Não existe uma fé que não fica clara em uma vida que dá frutos de fidelidade.
Conclusão
Aprendemos com a luta do profeta Habacuque que não devemos ficar ansiosos com os momentos difíceis da vida ou pelo menos lutar contra eles, mesmo que o horizonte não mostre boas coisas. Pois servimos um Deus que é fiel com o seu povo e cuida dele; servimos um Deus que é o senhor da história, e os seus propósitos não serão frustrados. Servimos a um Deus santo e justo que fará justiça, e nos torna porta-vozes dessa mensagem. Mas o nosso serviço deve ser evidenciado em uma fé servil que produz frutos de fidelidade. Que o Senhor nos ajude em nossa caminhada.

Fontes de Pesquisa

  • BAKER, David Weston. Obadias, Naum, Habacuque, Sofonias. São Paulo: Vida Nova, 2001.
  • Bíblia Sagrada versão NVI
  • CARSON, D. A. Comentário bíblico: Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2009.
  • DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2006.
  • LOPES, Hernandes Dias. Habacuque: como transformar o desespero em cântico de vitória. São Paulo: Hagnos, 2007.
  • SAYÃO, Luiz. O problema do mal no antigo testamento: o caso de Habacuque. São Paulo: Hagnos, 2012.
Soli Deo gloria!


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