sábado, 6 de agosto de 2016

Habacuque 1

Habacuque 1.1-11.
Contexto histórico.
O período que o profeta Habacuque redigiu os seus oráculos foi em algum momento entre os anos de 625 e 604 a.C., momento que os caldeus (babilônicos) estavam em ascensão. Até o grande império Assírio estava se curvando diante do poderio caldeu. Segundo Dillard (2006, p.393), “em 604 a.C., os exércitos babilônicos subjugaram a cidade-estado dos remanescentes do outrora grande Império Assírio”.
Depois de subjugar a Assíria, os babilônicos voltaram a sua atenção para Judá. Em 598 a.C., Nabucodonosor invadiu a primeira vez o reino de Judá e levou cativo o rei Joaquim e a família real para o exílio. Foi nesse evento que o profeta Daniel e seus amigos foram para a Babilônia. Há indícios que Habacuque foi contemporâneo de outros profetas como, Jeremias, Sofonias, Naum e talvez Joel.
O texto.
O problema da impiedade sem punição (2-4). Após uma breve apresentação no verso 1 do livro, o profeta dirige a sua insatisfação para Deus. Em forma de lamento o profeta questiona a Deus de como os ímpios prosperam, enquanto os justos são devorados. Os injustos aqui não são pessoas fora do povo de Judá, como os assírios ou os babilônios, mas é a própria nação de Judá.
Um povo injusto (v.3), que não leva em conta a orientação da Lei. Transgredi-la não é nenhum problema. Mas a Lei não é só transgredida, é torcida também (v.4). Os injustos não somente descumprem a Lei, mas a diluem para dar legalidade ao seu ato pecaminoso. E Lei (Torah) aqui, deve ser compreendida não somente com conjunto de regras legais, mas como revelação de Deus aos homens.
A nação de Judá havia experimentado um avivamento com o reinado de Josias (627 a.C.), ao longo do tempo esse despertamento começou a perder força e algumas pessoas da nação começaram a voltar as antigas práticas pecaminosas, incluindo a idolatria.
Habacuque em seu clamor em forma de lamento, anuncia a perversidade de uma nação violenta. Um povo que oprime os seus próprios conterrâneos. O sofrimento de o povo sentia não vinha dos de fora, mas dos de dentro. É como se a própria igreja oprimisse a sua membresia.
Habacuque também denuncia a injustiça. O conflito e a luta estão sempre diante de seus olhos. Não há paz na nação de Judá. Há sempre conflitos no meio do povo, e em tais conflitos a justiça não é realizada, os injustos prevalecem contra os justos. Só que quando os injustos prevalecem contra os justos a lei enfraquece.
Em uma nação teocrática como Judá, falar que a Lei está fraca pode não ser o mesmo que falar literalmente que a Lei como revelação foi deixada de lado, mas em algum nível é o que acontece. Pois a legislação de Judá é reflexo da Lei revelacional de Deus ao seu povo. Ela deveria ser o princípio fundamental para orientar tudo na nação. Então, quando profeta fala que enfraquece ou é torcida, em sua gênese houve negligência com a Palavra de Deus.
Esse é o quadro do povo de Judá que o profeta Habacuque estava denunciando. Não só denunciando, pedindo a intervenção de Deus, para que o quadro deprimente da nação fosse alterado. Mas a resposta de Deus não foi muito palatável para o profeta.
Deus responde o profeta de forma inesperada (v.5-11). Deus está ciente da impunidade e infidelidade de seu povo. Como Deus justo, Ele decide fazer justiça e punir os ímpios por seus pecados. A resposta que o Senhor dá ao profeta não o anima muito. Na verdade, o deixa mais confuso ou indignado ainda.
A reposta que Deus dá a Habacuque é a seguinte. Estou trazendo os babilônicos para punir vocês por seus pecados. Aquela nação vil e cruel para marchar sobre vocês. Ou seja, uma nação conhecida por sua ferocidade, sua sede de sangue, por sua arrogância, que menosprezam reis e governantes, será o instrumento de juízo de Deus.
Os caldeus estavam assombrando o mundo conhecido de sua época. A poderosa Assíria que havia levado o Reino do Norte cativo tinha sucumbido diante dos caldeus. Nem o Egito, que se aliou com os assírios, conseguiu frear a poderosa Babilônia. As nações estavam pasmas com a força e a rapidez da acessão dessa nação. E, é ela que viria com força para punir o povo infiel e impiedoso de Judá.
Este é o quadro que se depara o profeta Habacuque. Residindo em meio a um povo injusto e infiel. Quando clama a Deus por socorro, recebe de Deus a resposta de que um povo pior do que os seus compatriotas seria instrumento de juízo divino sobre eles. O profeta fica sem compreender os propósitos de Deus, o que o faz a fazer outra pergunta para Deus. Mas isso é parte de outra reflexão. Vejamos o que de ensino prático podemos extrair desse texto.

1.    Só podemos ser instrumentos de Deus quando estamos sensíveis a realidade que nos cerca.
   Habacuque não era um alienado. A primeira coisa que aprendemos com o profeta Habacuque é estar sensível a realidade que nos cerca. O profeta não ficou no seu oficio ou seu emprego e não se preocupou com a realidade de seu povo. Ele não ia da casa para o trabalho e do trabalho para casa sem notar o verdadeiro quadro de sua nação.
A alienação da realidade é um mal da nossa sociedade contemporânea. A nossa sociedade egocêntrica nos ensina a olhar para o nosso mundinho particular somente. Compadecer-se dos outros é perda de tempo. Enquanto estou estivermos olhando para nós mesmo o tempo todo, nós não conseguiremos ser instrumentos de Deus para ninguém. Enquanto os nossos interesses forem prioridades, nunca sermos resposta de oração de ninguém. O profeta Habacuque só chegou ao ponto de questionar a Deus porque ele parou de olhar para dentro e começou a olhar para fora. O Senhor Jesus só se compadeceu das pessoas porque ele veio par servir e não para ser servido e muito menos para servir-se.
    Lembro-me do livro pequeno príncipe de Antonie de Saint-Exupéry. Quando o pequeno príncipe começa a visitar os asteroides que estavam próximos a ele, o primeiro tinha um rei. Um rei que vivia sozinho um seu mundinho e achava que tudo girava em torno dele e que todos eram seus súditos, até as estrela e sol.
    Enquanto o nosso olhar estiver preocupado com o nosso mundinho particular, com nosso "reinado egocêntrico", nós nunca impactaremos a sociedade que nos cerca.
2.    O momento do sofrimento é o momento predileto de Deus revelar sua vontade.
  Se o momento que Habacuque não fosse um momento crítico ou de sofrimento, Habacuque não teria ria recebido o oráculo de Deus. Há muitos textos da Bíblia que indicam essa verdade de que Deus se manifesta em meio as dificuldades e sofrimentos. Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança (Tiago 1:2-3). De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos (2 Timóteo 3:12).
Por mais que não seja agradável passar por momentos difíceis, muitas das vezes é esse é o caminho que Deus usa para revelar sua vontade a nós. Isaías foi cerrado ao meio, Jeremias ficou preso em uma cisterna, Daniel foi parar na cova dos leões, Paulo foi diversas vezes preso e espancado, o nosso Senhor Jesus sofreu para nos dar vida.
    Às vezes é em meio ao sofrimento que Deus se revela a nós de maneira mais palpável. Isso fica claro quando vemos que as nações mais ateias são as que menos passam por momentos difíceis.
   É como se o deserto fosse o meio pedagógico de Deus. Pois é no deserto que toda a arrogância é desmantelada, é no deserto que o nosso orgulho se desfaz, é no deserto que precisamos exercitar a humildade. E é aos humildes que Deus se revela. É aos de coração contrito que ele ampara e socorre.
3.    As respostas de Deus nem sempre são as desejadas.
   A terceira lição que aprendemos com o profeta Habacuque é que Deus não responde aos nossos caprichos ou como desejamos. O profeta queria justiça, mas justiça ao seu modo. E quando Deus responde o profeta fica pasmo. Deus responde de acordo com os seus propósitos e vontade, e não para satisfazer nossas vontades.
  A nossa sociedade mercadológica e de consumo está acostumada a pegar as coisas na prateleira do mercado ou a trocar de canal quando não está satisfeita com o que está vendo. Só que Deus não encalha nessa ideologia mimada de controle remoto. Não há nenhum botão em Deus para fazê-lo mudar de direção ou mudar sua forma de agir a fim de satisfazer os nossos desejos. É como Tiago diz, Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres (Tiago 4.3).
  Deus não é aquele pai irresponsável e sem autoridade que o filho pega o que quer na prateleira do mercado e o pai se rende aos seus caprichos. Deus é um pai sábio que dará aos seus filhos o que realmente eles precisam para se tornarem adultos maduros. E isso, deve ser um motivo de grande alegria. Pois como crianças que não compreendem a real necessidade de nossas vidas, devemos descasar em um Pai soberano que sabe o que é o melhor para nós.


Soli Deo gloria!

Fontes de Pesquisa
  • BAKER, David Weston. Obadias, Naum, Habacuque, Sofonias. São Paulo: Vida Nova, 2001.
  • Bíblia Sagrada versão NVI
  • DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2006.
  • LOPES, Hernandes Dias. Habacuque: como transformar o desespero em cântico de vitória. São Paulo: Hagnos, 2007.
  • SAINT-EXUPÉRY, Antonie. O pequeno príncipe. São Paulo: Giz Editorial, 2015.
  • SAYÃO, Luiz. O problema do mal no antigo testamento: o caso de Habacuque. São Paulo: Hagnos, 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário