sábado, 8 de junho de 2019

ENTRE A ALEGRIA E O LUTO



Entre as tarefas do ministério pastoral está acompanhar os membros de sua comunidade nos momentos mais diversos, como: confiança, medo; satisfação, frustração; alegria, luto. Por vezes, saímos de um sepultamento para um aniversário, do CTI para a maternidade, de um presídio para uma formatura.

Só que por trás da prática poimênica há homens, com seus momentos de confiança e medo, satisfação e frustração, alegria e luto. Pastores de carne e osso. Gente que precisa de cuidado e pastoreio. Gente que precisa de oração.

Caro pastor, lembre-se, você não é de ferro, precisa de cuidado e pastoreio. Lembre-se de que "Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre presente na adversidade" (Salmo 46.1).

A você, membro de igreja, cuide de seu pastor. Você não sabe os desafios que ele enfrenta para cuidar da sua vida. Ore por ele e sua família. Lembre-se da recomendação de Paulo, "O que está sendo instruído na palavra partilhe todas as coisas boas com quem o instrui" (Gálatas 6.6).

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Carta a igreja de Éfeso

Texto: Apocalipse 2.1-7

O livro do Apocalipse é marcado por mistérios. Muita especulação e poucas certezas por parte dos seus intérpretes. Mas as cartas de Jesus as suas igrejas espalhadas pela Ásia Menor são uma mensagem clara, e não só para aquelas igrejas, mas para todas. A primeira vai para a igreja que está localizada na cidade de Éfeso, a principal cidade da região.

Éfeso era uma grande cidade cosmopolita e funcionava como a entrada para as outras regiões da Ásia Menor. Era conhecida, também, por seu templo dedicado a deusa Ártemis, uma das sete maravilhas do mundo antigo. A decadência moral era tão acentuada que o filósofo grego Heráclito, diz que a moral do templo era pior que a de animais promíscuos, pois estes não se mutilavam1.

A igreja que surge na região nasce com o trabalho missionário do apóstolo Paulo (cf. At 19). Ele fica cerca de 3 anos, pregando e ensinando o Evangelho de Jesus Cristo. Posteriormente, endereça uma carta a mesma igreja para encorajá-los e exortá-los sobre as coisas da vontade de Deus.  
Só que a carta agora é de Jesus. Paulo está morto, João está preso, possivelmente Timóteo também está morto, mas Jesus, que esteve morto, mas agora “está vivo para todo sempre” (Ap 1.18), tem algo para falar com a igreja de Éfeso. Vejamos o que Ele tem a dizer.

v.1 - As palavras vêm daquele que tem em sua mão as sete estrelas, ou seja, Jesus é o senhor dos pastores, ou melhor, Jesus é o verdadeiro pastor das igrejas. Ele anda no meio dos candelabros, Ele as conhece intimamente. O supremo pastor anda observando suas igrejas.

v.2 - Por isso, Jesus conhece bem o trabalho árduo (dedicado) dessa igreja. Assim como, a perseverança. Além do já mencionado, Éfeso é uma igreja que analisa com critério aqueles que querem liderá-las ou aproximar-se como membros. Não há tolerância com pessoas perversas. Poderíamos dizer que era uma igreja fiel e sólida doutrinariamente.

v.3 - Seu vigor e fidelidade é tão significativo, que ela se mantém firme mesmo em situação de perseguição. O nome de Jesus não é negado mesmo que isso os coloquem em apuros. A cidade de Éfeso, durante o governo imperial de Domiciano, perseguiu muito os cristãos. Principalmente por conta do seu culto ao imperador (foram instalados dois templos em memória do imperador). Inácio chegou a chamar a cidade de a “porta dos mártires”2.

v.4 - Só nem tudo é elogio. Jesus tem algo contra essa igreja. Ela perdeu o seu primeiro amor. Em algum momento essa igreja que chegou a receber as seguintes palavras do apóstolo Paulo, “ouvi falar da fé que vocês têm no Senhor Jesus e do amor que demonstram para com todos os santos” (Ef 1.15), mas esse elogio não cabe mais para essa igreja.

Não adiantava nada todo empenho e fidelidade. Como bem observou Craig S. Keener (2017, p. 861), “Sã doutrina e perseverança são insuficientes sem o amor”. Zelo sem ternura e serviço sem amor de nada significam. F. F. Bruce (2012, p. 1523) faz uma análise importantíssima deste verso, ele diz:
Um diagnóstico tão penetrante, especialmente de pessoas que acabaram de ser elogiadas por perseverarem e não se afadigarem na fé (v.3), fala de uma percepção espiritual incomum e da familiaridade e intimidade de longa data com a igreja a quem dirige. Apesar de toda a perseverança tão elogiável; o fervor do seu primeiro amor [...] tinha desvanecido. E nada [...] pode tomar o lugar do ágape na comunidade cristã.
v. 5 - Essa igreja precisa retomar a vivência do primeiro amor. Aquilo que ficou para trás é o que Jesus deseja que a igreja resgate. Pois, caso isso não ocorra, a igreja perderá sua função e Jesus a removerá. Quando uma igreja deixa de iluminar, ela perdeu sua função.

v. 6 - Esse verso é uma lembrança para que a igreja continue o seu trabalho de boa doutrina e fidelidade, isso não deve parar. O que deve acontecer é o retorno do amor.

v. 7 - Essa mensagem é para ser ouvida e respondida. Jesus espera uma resposta positiva da igreja de Éfeso. Pois o remanescente que permanecer fiel em tudo que o supremo pastor instruir, desfrutará da árvore da vida, ou seja, da eternidade com o nosso Senhor Jesus Cristo.


1LOPES, Hernandes Dias. Apocalipse: o futuro chegou - São Paulo, SP: Hagno 2005, 62.

2LOPES, Hernandes Dias. Apocalipse: o futuro chegou - São Paulo, SP: Hagno 2005, p.61.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

O CRISTÃO E AS QUESTÕES ÉTICAS DA ATUALIDADE - WALTER C. KAISER JR

Nessa obra, Kaiser Jr. elabora uma série de estudos que visa abordar alguns dos principais temas éticos da atualidade. Questões como: racismo e direitos humanos; aborto; homossexualidade; alcoolismo e drogas; desobediência civil; e outros, são analisado no livro. 

Esses temas éticos são abordados nos capítulos do livro. Seu objetivo não é uma reflexão profunda sobre cada ponto, buscando assim uma teologia profunda de cada demanda ética. A abordagem é mais pastoral e pedagógica. A partir de textos bíblicos, Kaiser expõe o ensino bíblico sobre os assuntos.

O valor da obra está em sua simplicidade na abordagem, cuidado bíblico com os temas e didadicidade do conteúdo. O livro facilmente possibilita a sua utilidade como base para exposição (pregação) de textos bíblicos que tratam dos assuntos, assim como estudos dirigidos.

Vale muito a utilização da obra para o esclarecimento da comunidade de fé sobre como a cosmovisão cristã vê as temáticas tratadas. Edições Vida Nova mais uma vez contribuindo muito para o crescimento e maturidade da Igreja brasileira .

Leiam!!

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Quando lidamos com a dor.



É inevitável. Somos seres finitos, limitados, e chega um momento que enfrentamos essa realidade. Topamos com ela quando adoecemos ou quando uma pessoa querida nossa passa pela dor e sofrimento que nossa vida frágil nos impõe. Agora se é inevitável, se não há escapatória, como lidar com ela?

Bom, nada melhor do que buscar essa resposta na Escritura Sagrada. O salmista Davi, no salmo 16, diz: "Protege-me, ó Deus, pois em ti me refugio". Demostrando que há um local de abrigo em que o consolo e conforto podem ser encontrados. O Senhor é o que nos guarda não só nos bons momentos da vida, mas nos ampara na angústia.

Davi encerra seu salmo dizendo, "Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita" (v. 11). Não há nada mais reconfortante do que saber que todo sofrimento é passageiro, que todo vale de sombra e morte tem seu fim. Saber que a realidade final de nossas vidas não é o féretro, mas a vida, o eterno prazer da presença de Deus, é revigorante.

Caso você, caro leitor, está passando por um momento como esse ou vendo alguém que você ama passar por isso, não perca as forças. Esse não é o ponto final da história.

ROBINSON CRUSOÉ - DANIEL DEFOE



O livro é uma história sobre um náufrago chamado Robinson Crusoé. O próprio personagem é o narrador, o biógrafo de sua aventura. 

Sua história começa na Inglaterra do século XVII. Como um jovem disposto a rodar o mundo em busca de aventura, mesmo que isso contrarie a vontade de seus pais. Titubeante no início nessa ato de rebeldia, mas logo levado por seus próprios impulsos e desejos.

Sua primeira viagem de navio já foi um grande fracasso. Ainda na Inglaterra sofre seu primeiro naufrágio. Isso o deixa temeroso de continuar sua empreitada, pois temia uma advertência de seu pai, que por vezes Robinson via como uma profecia. O medo passando, se lançou em sua primeira grande viagem, indo para a costa da África o que o faz lucrar bastante. 

A possibilidade de construir uma vida financeira segura juntamente a satisfação de conhecer o mundo lança Crusoé novamente ao mar, só que essa viagem o leva para as mãos de piratas. Esse cativeiro durou alguns anos, até que com um plano desafiar ele se vê livre. A liberdade o lança em uma nova jornada de aventura até ser socorrido por um navio português em direção ao Brasil.

Sua vida no Brasil foi próspera, mas curta. A ganância de angariar mais recursos o lança novamente ao mar. O que para o personagem não é uma boa ideia. Uma tempestade surpreende a tripulação e o navio vai a pique. Só Crusoé sobrevive, conseguindo amparo em uma ilha deserta.

A maior parte da narrativa se dá nessa ilha. Desafios para se alimentar, desafios para se abrigar, desafios para sobreviver de maneira geral. Anos e anos da vida dele são vividos nesse pequeno pedaço de terra, até que Robinson é resgatado por um navio.

Focando no livro, que é uma versão dos clássicos da Penguin Companhia, com uma introdução de John Richetti, é uma obra de agradável leitura. Daniel Defoe escreve um livro que não é um clássico sem méritos. Vale muito a leitura. Já a introdução de John Richetti recomendo que seja lida depois da leitura do livro. Ela pode direcionar o leitor a um tipo de interpretação que pode tirar o sabor das próprias descobertas, mas leiam a introdução após a leitura do livro.

Leiam!

sábado, 30 de dezembro de 2017

Jesus, a Luz para a humanidade

João 8.12

Introdução
Talvez se eu perguntasse as pessoas o que significa a palavra “trevas”, eu teria distintas definições, como: escuridão, obscuridade, noite, pretume, alienação; se a pessoa for mais bíblica, ela dirá: inferno, hades, abismo, dor, sofrimento; se a pessoa for filosófica, dirá: ignorância, superstição, desconhecido; e se continuarmos, muitas outras definições virão. Olhando para todas elas podemos notar uma coisa em comum. As trevas são algo muito ruim, em alguma medida a representação do mal e da miséria humana. Penúria essa, que temos que lidar no nosso dia a dia.

Ontem, por exemplo, enquanto tomava o meu café da manhã, liguei a Tv e coloque na GloboNews e estava passando a retrospectiva de 2017. As notícias se acumulavam e todas as que eu vi eram de tragédias, eram de trevas. Queimadas na Europa, imigrantes fugitivos, atentados terroristas, morte de 132 PMs do Rio, confronto nas comunidades, e outras reportagem que manifestavam a realidade nesse mundo em trevas.

Alguns pensam que antigamente era melhor, tentando buscar na nostalgia a esperança para caminhar. Olhemos para o tempo de Jesus. O povo era oprimido pelo império romano (opressão política), os representantes do povo eram corruptos (Pilatos não está preocupado com a justiça, mas com seu status), havia guerra entre etnias (judeus e samaritanos), pessoas adoeciam, homens bons eram mortos (João Batista), havia disputa religiosa (Gerizim ou Jerusalém), os líderes religiosos eram egoístas. Se fizesse uma retrospectiva do período confundiríamos com a de 2017.

“Como resolver isso?” é a pergunta que a humanidade tem feito. Alguns buscam em uma estrutura política um meio de lançar luz nas trevas, buscam por um messias político. Outros na ciência, com o avanço de ferramentas tecnológicas e cientificas para resolver o problema do mal. Há ainda, os que buscam em filosofias, em ideologias uma forma se lançar luz na obscuridade da nossa realidade. Há também a religiosidade como lanterna para as trevas, pessoas buscam no “sagrado” a solução. A nossa sociedade pós-moderna, vive um movimento de busca de luz na religiosidade. Milhões são investidos em todas essas frentes.

Vejo nisso um movimento único. O homem é um ser religioso que busca a salvação de sua miséria, e para isso devota a sua fé em algo que o possa salvar, na política, na ciência, nas ideologias,  na religiosidade. Construindo assim ídolos para funcionar como paliativo ou placebo da alma envolta na escuridão. Ou seja, tudo se resume em um movimento religioso do homem.

Contexto da passagem
Só que é em meio a esse contexto, que um homem se levanta e diz: Eu Sou a Luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida.

Era dia da festa dos tabernáculos, ou seja, uma prática religiosa do povo judeu. Havia um momento do rito da festa dos tabernáculos que eram acessas 4 grandes luminárias no pátio feminino do Templo, para servir de lembrança da coluno de fogo no deserto que iluminava o caminho do povo. Nesse momento Jesus fala, “Eu Sou a Luz do mundo”. A luz que dissipa as trevas não está na religiosidade de vocês, mas em mim.

Jesus é o messias prometido em Isaías 42.6-7: “Eu, o Senhor, o chamei para a justiça; segurarei firme a sua mão. Eu o guardarei e farei de você um mediador para o povo e uma luz para os gentios, para abrir os olhos aos cegos, para libertar da prisão os cativos e para livrar do calabouço os que habitam na escuridão”. Jesus veio nos libertar das trevas que vivemos.

Como na promessa redentiva de Deus, por meio de Zacarias: “Então o SENHOR, o meu Deus, virá com todos os seus santos. Naquele dia não haverá calor nem frio. Será um dia único, um dia que o SENHOR conhece, no qual não haverá separação entre dia e noite, porque, mesmo depois de anoitecer, haverá claridade” (Zc 14.5b-7). Jesus é a luz que dissipa todas as trevas.

Mas como?
Em primeiro lugar, afirmação de Jesus está baseada na sua autoridade. Os judeus perguntavam quem o havia dado autoridade para fazer o que fazia ou o que falava. A autoridade de Jesus vinha dele mesmo. Pois a luz atesta a sua própria presença, ela não precisa de terceiros para fundamenta-la. Jesus deixa ainda mais evidente sua autoridade quando lemos o contexto seguinte do empate de Jesus com os fariseus, pois Ele abre os olhos de um cego de nascença (cap. 9).

A ciência busca autoridade em dados empíricos, ideologia em conceitos, filosofia em dedução ou na razão, mas Jesus é por si mesmo a autoridade, a Luz que ilumina o mundo.

Segundo lugar, Jesus é Deus que veio resgatar o ser humano das trevas. Na sua afirmação, “Eu Sou a Luz do mundo”, Ele usa o termo que Deus utiliza para se revelar a Moises, o EU SOU. Jesus é Deus encarnado, é o Emanuel, Deus conosco. Jesus é luz do mundo, porque como em Genesis 1.2, Deus lança a luz sobre as trevas, Jesus lança luz sobre as trevas da humanidade caída. Jesus veio salvar o homem das trevas que o envolve. Só Deus pode nos resgatar da imundice do nosso pecado, da escuridão de nossa alma, e fazer de nós uma nova criação.

E nós como ficamos?
Depois da sua auto declaração de que Ele é Luz, Jesus fala que o efeito dessa iluminação recai sobre aqueles que o seguem.

O Evangelho de João no capítulo 3 verso 19, diz: “Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más”.

Diante de Jesus há os que o seguem e os que não. Há os que forma iluminados e os que preferiam continuar nas trevas.

Implicações práticas de Jesus ser a luz do mundo:

1.                          Isso implica em revelação das nossas obras obscuras. Quando Jesus lança sua luz sobre nossa vida, podemos ver com clareza o quanto somos homens e mulheres das sombras. A conscientização disso deve nos levar ao arrependimento, para nos tornamos filhos de luz. Se o Espírito Santo está tocando em seu coração e revelando a ação da graça de Deus, em vir a esse mundo de trevas para te salvar, você deve se arrepender. Pois só é salvo do fundo do poço, aquele que tem consciência que está nele.

2.                          Jesus quando vem ao mundo é para revelar que Deus é e seu amor por nós. Como isso somos chamados a estar nele e desfrutarmos do amor do Pai. Por meio de Jesus temos acesso a Deus. Por meio dEle nos relacionamos com Deus. Não é a religiosidade do templo, mas Cristo Jesus.

3.                          Quando Jesus ilumina o mundo, é para mostrar um caminho a ser seguido. João em sua primeira carta, diz: “Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1.7). Em Jesus temos o modelo de como ser luz nesse mundo de trevas.


Soli Deo gloria!

domingo, 23 de julho de 2017

O Reino de Deus e sua oposição (Joio e Trigo)

Mt 13.24-30
24 Jesus lhes contou outra parábola, dizendo: "O Reino dos céus é como um homem que semeou boa semente em seu campo.
25 Mas enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e se foi.
26 Quando o trigo brotou e formou espigas, o joio também apareceu.
27 "Os servos do dono do campo dirigiram-se a ele e disseram: ‘O senhor não semeou boa semente em seu campo? Então, de onde veio o joio? ’
28 " ‘Um inimigo fez isso’, respondeu ele. "Os servos lhe perguntaram: ‘O senhor quer que vamos tirá-lo? ’
29 "Ele respondeu: ‘Não, porque, ao tirar o joio, vocês poderão arrancar com ele o trigo.
30 Deixem que cresçam juntos até à colheita. Então direi aos encarregados da colheita: Juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro’ ".


Em Mateus capítulo 13 vemos uma série de parábolas de Jesus sobre o Reino de Deus. A que será tratada nesse presente estudo é conhecida como a do joio e do trigo. Parábola essa que também conta com a explicação do Senhor Jesus Cristo (13.36-43). Explicação dada posteriormente somente aos discípulos, pois eles o haviam perguntado.

Os capítulos anteriores (11 e 12) vemos uma divisão profunda entre aqueles que ouviram os ensinamentos de Jesus e a grande variedade de respostas a esses ensinamentos. Jesus foi chamado de “comilão” e “beberrão” (11.19); Ele foi rejeitado em cidades como Corazim e Betsaida (11.21); foi questionado pelos fariseus por colher espigas no sábado para matar a fome (12.1); foi a acusado de expulsar demônios por meio de Belzebu (12.24); foi desacreditado pela sua própria família (12.46-47).

Nessa caminhada de proclamação do Reino, Jesus também teve respostas como a de João Batista que preparou o caminho para Ele (11.1-10); Ele pode adorar o Pai pelo ensino dado aos pequeninos (11.25); cansados e sobrecarregados depositaram os seus fardos aos seus pés (11.28-30); Ele teve muitos seguidores (12.15); curou e libertou pessoas (12.22ss); teve pessoas que pode chamar de irmãos e mães (12.49-50).

Essa tensão existente no ministério do Senhor Jesus Cristo é apresentada por Ele na parábola do joio e do trigo. O Reino de Deus cresce, mas com ele a sua oposição. Crescendo conjuntamente de forma sorrateira. O Reino é semeado pelo próprio Senhor Jesus, por sua vida e obra (obra da salvação), mas inimigo semeia a erva daninha no terreno que cresce o Reino de Deus.

Cabe aqui uma distinção importante. O solo nessa parábola não é a igreja, mas o mundo. O Reino de Deus nessa parábola e em todo Evangelho de Mateus não tem como sinônimo a igreja. São realidades distintas, a Igreja faz parte do Reino, mas não é o Reino.

Nessa pequena digressão vale destacar que deixar as coisas como estão, semente boa e ruim crescendo juntos, não pode ser encarrado como se a igreja não deva buscar a santidade e a pureza. O próprio Jesus recomenda forma de disciplina em Mt 18.15-17, ou como a recomendação do apostolo Paulo em Efésios 5.27 de uma igreja que se apresenta gloriosa, sem manha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável, por conta do amor expresso por Jesus.

Sabedores disso, caminhemos para a compreensão da parábola dentro dessa tensão de um Reino que cresce, mas juntamente com ele a sua oposição e concorrência. 


1.    Não sejamos ingênuos (v.25-26).

Existe joio e trigo no mundo, e o inimigo trabalha para impedir o progresso do Reino de Deus. O texto da parábola e sua explicação deixam claro que o crescimento do Reino de Deus terá oposição e competição no solo do mundo. Da mesma forma que o Senhor Jesus semeia a sua boa semente no mundo, o Evangelho, o Diabo faz o mesmo em oposição ao reinado do Senhor Jesus. Por isso, não devemos ser ingênuos com relação a oposição do maligno.

É como cultivar uma horta. Por mais que você procure plantar coisas boas, como: salsinha, coentro, hortelã e outros. Sempre nasce ervas daninhas, mesmo que você não tenha semeado.

Há no nosso mundo uma oposição clara ao crescimento do Evangelho. Se o Reino de Deus luta por princípios que mantenham a família unida, em uma base monogâmica e heterossexual, o inimigo semeia a erva daninha da promiscuidade e dos relacionamentos homossexuais. Se o Reino de Deus priva por uma sexualidade construída dentro do matrimonio, o inimigo lança sementes do sexo antes do casamento.

Esses são só alguns exemplos de ação do Diabo no mundo em oposição aos valores do Reino de Deus. Assim como o Reino de Deus tem seus filhos que crescem na terra, o reino das trevas tem os seus.

Por isso, ingenuidade não pode nos dominar. Devemos estar cientes dessa oposição e competição, mas não para arranca-la, pois isso poderia ferir o crescimento e maturidade dos eleitos.

Portanto, fiquemos firmes diante das investidas do inimigo, mas não sermos juízes do mundo. O Juízo está nas mãos de Deus e veremos isso no próximo ponto.


2.    O juízo está nas mãos de Deus (v.30; 41-42).

O juízo e a justiça estão nas mãos do Senhor Jesus Cristo. Tanto na explicação quanto na exposição da parábola estão falando que não é papel da igreja, do povo de Deus, mas sim do próprio Senhor Jesus Cristo a manifestação da justiça e do juízo. Isso, do ponto de vista escatológico.

O Senhor Jesus dará ordem aos seus anjos para no dia do juízo, e não agora, separar o joio do trigo. Guardando o trigo em seus celeiros e lançando o joio no fogo. São os encarregados da colheita que farão a separação do joio do trigo. Cabe a Jesus a decisão final sobre a vida dos homens. O juízo e a justiça final estão em suas mãos.

Há inúmeras pinturas sobre o juízo final, mas a que me chamou muito a atenção foi a de D' Beato Fra Angelico, que fica na Galeria Nacional de Roma. Nela o Senhor Jesus está em destaque no seu trono no centro da imagem julgando o mundo, separando os justos (justificados) dos injustos. Nela nenhum homem faz deliberações ou toma decisões, mas são alvos do julgamento.

Com isso, não quero dizer que a igreja ou a comunidade de Cristo não delibera e exerce algum tipo de julgamento, mas o julgamento final, este, está nas mãos do Senhor. Para aqueles que responderam positivamente ao Evangelho a justiça já foi manifesta em Cristo Jesus. Paulo em Rm 3.26 diz que no presente, [Jesus] demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé nEle. Cabe a nós diante disso responder positivamente, com fé, ao seu ensino e sua justiça. Precisamos confiar que é Jesus que faz todo o trabalho para a salvação e não nós.

Portanto, em primeiro lugar confiem em sua justiça e segundo, não seja soberbo em dizer quem vai ou merece o céu e quem não.


3.    O juízo final é uma realidade, gloriosa ou assombrosa (v.42-43).

O juízo final é uma realidade, quer você acredite quer não, ele virá. Pode ser algo belo e extraordinário, se você foi alguém que creu pela fé no que o Senhor Jesus fez por você, ou pode ser assombrosa se você o rejeitou.

Jesus não esconde o desfecho do que é o juízo final, recompensa para uns, punição para outros. Aqueles que o rejeitarem receberão o custo de sua rejeição, a morte. Já aqueles que pela fé se curvaram diante de sua majestade brilharão como o sol no Reino de seu Pai (v.43). Quando o Reino de Deus se manifestar plenamente o reino das trevas será totalmente subjugado e receberá sua punição.

A mesma pintura de D' Beato Fra Angelico, que citei acima, manifesta essa verdade. A direita de Cristo estão os que aceitaram a sua mensagem. Em belo jardim, numa grande festa. A esquerda de Jesus estão os pecadores impenitentes, entrando em um lugar de sofrimento.

Winston Churchill disse que a decadência moral da Inglaterra era devido ao fato que os pregadores tinham deixado de pregar sobre o céu e o inferno. O juízo final é uma realidade do Reino de Deus que pode ser confortadora ou aterrorizadora.

Não há como escapar desse dia. O destino que receberemos nesse dia é uma resposta daquilo que fomos aqui na terra, ou melhor, de como respondemos ao Evangelho do Senhor Jesus Cristo. Se formos sementes do Filho de Deus, por Ele plantadas, iremos para o seu celeiro por toda a eternidade. Agora, se formos erva daninha, plantada por satanás, receberemos a paga disso.

Não viva essa vida achando que esse dia nunca chegará. Se você é uma semente do Filho de Deus, aguarde com alegria a manifestação desse glorioso dia. Agora, se você for semente do maligno, “que o Senhor tenha misericórdia de sua vida”.


Soli Deo gloria!