Texto: Apocalipse 2.1-7
O livro do Apocalipse é marcado por mistérios. Muita especulação e poucas certezas por parte dos seus intérpretes. Mas as cartas de Jesus as suas igrejas espalhadas pela Ásia Menor são uma mensagem clara, e não só para aquelas igrejas, mas para todas. A primeira vai para a igreja que está localizada na cidade de Éfeso, a principal cidade da região.
Éfeso era uma grande cidade cosmopolita e funcionava como a entrada para as outras regiões da Ásia Menor. Era conhecida, também, por seu templo dedicado a deusa Ártemis, uma das sete maravilhas do mundo antigo. A decadência moral era tão acentuada que o filósofo grego Heráclito, diz que a moral do templo era pior que a de animais promíscuos, pois estes não se mutilavam1.
A igreja que surge na região nasce com o trabalho missionário do apóstolo Paulo (cf. At 19). Ele fica cerca de 3 anos, pregando e ensinando o Evangelho de Jesus Cristo. Posteriormente, endereça uma carta a mesma igreja para encorajá-los e exortá-los sobre as coisas da vontade de Deus.
Só que a carta agora é de Jesus. Paulo está morto, João está preso, possivelmente Timóteo também está morto, mas Jesus, que esteve morto, mas agora “está vivo para todo sempre” (Ap 1.18), tem algo para falar com a igreja de Éfeso. Vejamos o que Ele tem a dizer.
v.1 - As palavras vêm daquele que tem em sua mão as sete estrelas, ou seja, Jesus é o senhor dos pastores, ou melhor, Jesus é o verdadeiro pastor das igrejas. Ele anda no meio dos candelabros, Ele as conhece intimamente. O supremo pastor anda observando suas igrejas.
v.2 - Por isso, Jesus conhece bem o trabalho árduo (dedicado) dessa igreja. Assim como, a perseverança. Além do já mencionado, Éfeso é uma igreja que analisa com critério aqueles que querem liderá-las ou aproximar-se como membros. Não há tolerância com pessoas perversas. Poderíamos dizer que era uma igreja fiel e sólida doutrinariamente.
v.3 - Seu vigor e fidelidade é tão significativo, que ela se mantém firme mesmo em situação de perseguição. O nome de Jesus não é negado mesmo que isso os coloquem em apuros. A cidade de Éfeso, durante o governo imperial de Domiciano, perseguiu muito os cristãos. Principalmente por conta do seu culto ao imperador (foram instalados dois templos em memória do imperador). Inácio chegou a chamar a cidade de a “porta dos mártires”2.
v.4 - Só nem tudo é elogio. Jesus tem algo contra essa igreja. Ela perdeu o seu primeiro amor. Em algum momento essa igreja que chegou a receber as seguintes palavras do apóstolo Paulo, “ouvi falar da fé que vocês têm no Senhor Jesus e do amor que demonstram para com todos os santos” (Ef 1.15), mas esse elogio não cabe mais para essa igreja.
Não adiantava nada todo empenho e fidelidade. Como bem observou Craig S. Keener (2017, p. 861), “Sã doutrina e perseverança são insuficientes sem o amor”. Zelo sem ternura e serviço sem amor de nada significam. F. F. Bruce (2012, p. 1523) faz uma análise importantíssima deste verso, ele diz:
Um diagnóstico tão penetrante, especialmente de pessoas que acabaram de ser elogiadas por perseverarem e não se afadigarem na fé (v.3), fala de uma percepção espiritual incomum e da familiaridade e intimidade de longa data com a igreja a quem dirige. Apesar de toda a perseverança tão elogiável; o fervor do seu primeiro amor [...] tinha desvanecido. E nada [...] pode tomar o lugar do ágape na comunidade cristã.
v. 5 - Essa igreja precisa retomar a vivência do primeiro amor. Aquilo que ficou para trás é o que Jesus deseja que a igreja resgate. Pois, caso isso não ocorra, a igreja perderá sua função e Jesus a removerá. Quando uma igreja deixa de iluminar, ela perdeu sua função.
v. 6 - Esse verso é uma lembrança para que a igreja continue o seu trabalho de boa doutrina e fidelidade, isso não deve parar. O que deve acontecer é o retorno do amor.
v. 7 - Essa mensagem é para ser ouvida e respondida. Jesus espera uma resposta positiva da igreja de Éfeso. Pois o remanescente que permanecer fiel em tudo que o supremo pastor instruir, desfrutará da árvore da vida, ou seja, da eternidade com o nosso Senhor Jesus Cristo.
1LOPES, Hernandes Dias. Apocalipse: o futuro chegou - São Paulo, SP: Hagno 2005, 62.
2LOPES, Hernandes Dias. Apocalipse: o futuro chegou - São Paulo, SP: Hagno 2005, p.61.
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