quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Relembrando o significado do Natal


Quando você pensa no Natal, o que lhe vem à cabeça? Família, amigos, presentes, festa? Ou realmente você comemora o Natal?

A história de origem do Natal é bem interessante. Quando Constantino sobe ao poder do império romano, ele o faz dizendo que havia recebido a vitória depois ter visto um sinal de uma cruz no céu, que dizia: In hoc signo vinces (por este sinal vencerá). Depois de ver ou sonhar tal sinal, ele vence seus adversários na batalha da ponte Mílvia sobre o rio Tigre. Com o poder em suas mãos ele legaliza o cristianismo, que até então era uma religião proibida em todo império.

Como a mãe de Constantino era uma devota cristã, ele se empenhou em fazer basílicas e trazer uma certa ordem ao cristianismo nascente. Com isso o cristianismo passou a ter alguns privilégios e reconhecimento em todo o império.

É um engano muito comum achar que Constantino oficializou o cristianismo, ele o legaliza e não oficializa. As outras religiões continuaram com o seu direito de prestar os seus cultos e continuar suas práticas. O cristianismo só é oficializado no ano de 380, quando Teodósio sobe ao trono do império. Com isso, o império passou a ter uma religião única e as demais foram proibidas.  

 No tempo do imperador Constantino, os cristãos reuniam-se no primeiro dia da semana (domingo) para seus cultos comunitários. Só que no mesmo dia da semana se comemorava o dia do deus sol. No ano de 321 d.C. o império instituiu o domingo como o dia do descanso. Com o passar do tempo o dia do deus sol passou a ser percebido como o dia de Jesus Cristo, “o sol da justiça”. Como essa associação não demorou muito para o dia 25 de dezembro, que se comemorava o solstício de inverno (natalis invicti Solis), o nascimento de deus sol, passar a ser comemorado o dia do nascimento do Senhor Jesus Cristo.

Mas com o passar do tempo o Natal passou a perder o seu real significado. E muito disso devido à grande influência do capitalismo/consumista. Primeiro com a entrada do papai noel. Uma lenda baseada na vida do arcebispo de Mira na Turquia do século IV, Nicolau. Que ajudava anonimamente as pessoas colocando um saco de moedas de ouro em suas chaminés. Passando a ser visto como essa figura natalina na Alemanha. No século XX ganhou a forma simpática e rechonchuda, e o traje vermelho, por meio da propaganda de um fabricante de refrigerante.

E esse simpático velhinho passou a ser o símbolo de uma sociedade capitalista mimada. Que deseja o que quer e recebe tudo do “bom velhinho”. Mas o verdadeiro Natal é Jesus. E para redescobrir o significado desse dia, nada melhor do que relembrar quem é Jesus e sua obra. Para isso analisemos o texto de 1 Jo 4.9-16.  

1 João 4.9-16.
O Natal é a manifestação do amor de Deus v.9. O amor de Deus para conosco manifestou-se no fato de Deus ter enviado seu Filho unigênito ao mundo para que vivamos por meio dele.

A vinda de Jesus ao mundo a manifestação do amor de Deus. Muitas coisas manifestam o amor de Deus, a vida, o alimento, o respirar, a criação. Como fala o salmo 19.1-3; Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia declara isso a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. "Sem discurso, nem palavras; não se ouve a sua voz.". Mas Jesus é a expressão exata do ser de Deus, Ele é o resplendor da sua glória e a representação exata do seu Ser (Hb1.3a). Jesus revela o Pai. Em Jesus temos o privilégio de realmente conhecer a Deus e o seu amor.

Pois só o filho pode revelar o Pai. E Jesus é seu unigênito. Ou seja, o único de sua espécie. Jesus realmente é único Filho de Deus, e ninguém mais.  

Se desejamos conhecer o nosso Deus e criador devemos conhecer a pessoa de Jesus Cristo. E o conhecemos por meio de sua Palavra e da oração. Quanto mais andamos com o Senhor Jesus, mais sabemos a sua vontade, os seus planos para nossas vidas. Quanto mais andamos com Jesus, mais experimentamos o amor de Deus.

O Natal tem um proposito v.9b e 10b. Deus ter enviado seu Filho unigênito ao mundo para que vivamos por meio dele.; mas foi ele quem nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.  O nascimento de Jesus teve o propósito de nos salvar, de espiar nossos pecados.

O apostolo Paulo em sua carta aos romanos diz que "Porque todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus;" (Rm 3.23). Uma compreensão melhor do pecado ajuda-nos a esclarecer um pouco do texto.

Por muitas vezes temos a tendência de limitar o pecado a simplesmente atos concretos. Ou seja, se eu faço alguma coisa errada estou pecando. Isso é verdade? Sim, mas não é toda a verdade. Pois cobiçar é pecado e não é um ato concreto ou palpável. Mas é algo que brota do nosso interior. Pois o nosso interior está corrompido. Não somos pecadores porquê pecamos, mas pecamos porquê somos pecadores. E isso nos deixa em uma enrascada. Como resolveremos o nosso problema do pecado? Não podemos. Por isso Jesus veio nos salvar.

Jesus veio propiciar os nossos pecados. Ele veio aplacar a justa irá de Deus. Ele veio tomar o nosso lugar, para que a justiça de Deus fosse feita. Jesus é a solução para o nosso problema do pecado, pois em Jesus podemos receber o perdão de Deus.

O Natal nos ajudar a amar v.10-13. Nisto está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus nos amou assim, nós também devemos amar uns aos outros. "Ninguém jamais viu a Deus; se amamos uns aos outros, Deus permanece em nós, e seu amor é em nós aperfeiçoado." Assim, sabemos que permanecemos nele, e ele em nós, por ele nos haver dado do seu Espírito.

O texto nos ensina que Deus nos amou quando nós não o amávamos. Na linguagem de Paulo, Mas Deus prova o seu amor para conosco ao ter Cristo morrido por nós quando ainda éramos pecadores (Rm 5.8). O amor de Deus por nós é incondicional. O amor de Deus vem em nossa direção.

O amor de Deus nos serve de paradigma para o amor. O amor de Deus nos ajudam a amar aos nossos semelhantes, aos outros.  Ele nos ensina que devemos amar sem esperar nada em troca, a amar o seu inimigo. E amar o inimigo não vem de um movimento sentimental ou emocional, é uma decisão. Um posicionamento racional diante dos fatos. Eu olho para o meu próximo e o amo e ponto final. Pois foi assim que Deus nos amou em Cristo.

O Natal é um convite a fé v. 15-16. Todo aquele que confessa que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus. "E conhecemos o amor que Deus tem por nós e cremos nesse amor. Deus é amor; quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele."
Jesus veio ao mundo para um convite, o convite ao arrependimento e a fé. Jesus começa seu ministério com as seguintes palavras: “Completou-se o tempo, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho”. (Mc 1.15).

Ter fé não significa simplesmente uma profissão de fé para o batismo. Pois se submetermos um demônio a uma profissão de fé ele vai passar, mas certamente ele não será batizado. Tiago alertando aqueles que tinham uma fé só de discurso, ele diz: Crês que Deus é um só? Fazes bem, pois os demônios também creem e estremecem (Tg 2.19).

 Ter fé, segundo o Evangelho, tem a ver com o testemunho, e testemunho tem a ver com vida compromissada. É por isso que que no v.14, João diz que: E nós temos visto e testemunhado que o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo. Ou seja, estamos compromissados com a fé em Jesus Cristo. Nós temos testemunhado que Jesus é o Filho de Deus que veio salvar o mundo. Nós vivemos e nos movemos nessa verdade.

Conclusão.
Portanto, o Natal não se resume em uma celebração familiar e muito menos uma celebração consumista, que visa o lucro. O Natal é a celebração da vinda do Messias. É a celebração da manifestação do amor de Deus, expresso na pessoa de Jesus Cristo. O Natal é celebrado pelo fado de Deus vir nos salvar dos nossos pecados. Celebramos o Natal amando o próximo como Deus nos amou. Celebramos o Natal quando assumimos um compromisso de fé com o salvador e decidimos segui-los por toda a nossa vida. Celebre o verdadeiro natal em sua casa. Celebre Jesus.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
·      Bíblia Sagrada Almeida Século 21: Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.
·      CAIRNS, Earle Edwin. O Cristianismo através dos séculos: uma história da igreja. 3ª edição – São Paulo: Vida Nova, 2008.

·      DREHER, Martin N. História do povo de Jesus: uma leitura latino-americana. São Leopoldo: Sinodal, 2013. 

sábado, 5 de dezembro de 2015

O caminho do discípulo


O que significa ser discípulo? O que caracteriza um discípulo? Começarei respondendo essas perguntas dizendo o que não é um discípulo.

Um discípulo não é um aluno. Um aluno analisa o que o seu professor ensina, os caminhos que ele utiliza para chegar a um determinado objetivo ou resultado, e a partir de suas conclusões e conhecimentos adquiridos, o aluno começa a formular e traçar o seu próprio caminho.

Um discípulo não é um fã. Um fã é alguém que admira ou idolatra outra pessoa. Por muitas vezes ele é até inspirado a fazer o que o seu ídolo faz, ou conquistar o que ele conquistou, mas ele não tem o seu ídolo como um modelo pleno a ser seguido. Por isso, muitas pessoas têm mais de um ídolo, um ídolo moral, um ídolo esportivo, um ídolo de resiliência, [...], e por aí vai.  

Um discípulo é alguém que deseja ser como o seu mestre e não somente aprender com ele. O seu mestre é o modelo pleno a ser seguido. Cada passo é observado, cada palavra armazenada, cada atitude copiada. A melhor definição ou ilustração que conheço sobre discipulado é um ensino judaico que era transmitido por um Rabi (mestre) ao seu talmidi (discípulo) logo que a sua jornada de aprendizado começava.

O Rabi diria o seguinte ao seu talmidi, “cubra-se com a poeira dos pés do seu rabi”. Ou seja, caminhe tão próximo de seu mestre, para que cada ato, cada ensino seja absorvido por você. E essa postura moldaria esse discípulo a ponto de ser parecido (ou confundido) com o seu mestre.

E o Senhor Jesus Cristo nos chama para uma vida de discipulado com Ele. Pois aqueles que não aguentavam mais caminhar e seguir sozinhos, aqueles que eram sobrecarregados pelos líderes religiosos, Ele faz o seguinte convite: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30).

Então, aquele que deseja seguir Jesus como mestre, que verdadeiramente deseja ser seu discípulo, cumpram-se com a poeira dos pés de Jesus. E no fim, certamente quando as pessoas olharem para sua vida, elas verão o Mestre. Pois você refletirá as posturas, decisões e a graça do Senhor Jesus.

Eu quero ser um discípulo de Jesus. E você?  

sábado, 21 de novembro de 2015

Estudo de Romanos


A epístola do apostolo Paulo aos romanos é a mais teológica de suas cartas. É nela que ele trata da depravação do homem, da justificação por meio da fé, da eleição da igreja como povo escolhido de Deus e de outros temas. Mas Romanos não tem somente um destaque teológico, mas também histórico. Foi lendo a epístola aos Romanos que Martim Lutero teve o seu encontro com a graça de Deus. Foi ouvindo a leitura de um comentário de Romanos de Lutero que John Wesley teve uma transformação radical em sua vida. Estes são só dois nomes, em uma grande multidão de pessoas impactadas pela leitura e estudo de Romanos. Por isso estuda-la coloca-nos em um grande risco, o de ser impactados pela graça de Deus e nuca mais sermos os mesmos. Estão dispostos?
Destinatários
Como o próprio nome da carta sugere, os destinatários eram cristãos que viviam em Roma, capital do império. A igreja de Roma era constituída em sua maioria por cristãos gentílicos, mas havia judeus convertidos também. Na saudação do capitulo 16 da carta, são vistos nomes judeus e romanos.
A cidade de Roma era a capital do império romano, era o destino de todas as estradas do império, “todos os caminhos levam a Roma”. Lá estava concentrado o poder político, financeiro e militar do império. E tudo isso colaborou para o nascimento de uma igreja vibrante em Roma. Existem algumas teorias do surgimento desta igreja, as duas principais são:
1.                      A da igreja católica Romana, que defende o início da igreja por intermédio do apóstolo Pedro. Por isso Pedro seria o primeiro Papa. Mas tal tese não se concretiza por alguns pontos. Em primeiro lugar Paulo não menciona Pedro em momento nenhum de sua carta. E como ele mesmo diz em Rm 15.20 Sempre fiz questão de pregar o evangelho onde Cristo ainda não era conhecido, de forma que não estivesse edificando sobre alicerce de outro, ou seja, Paulo não pregava onde outro apóstolo havia estado. E, em segundo lugar, Lucas não menciona Pedro no livro de Atos, como faz com Paulo quando ele chega a Roma (27-28).1  
2.                      A segunda e preferida tese é que essa igreja foi fundada por judeus romanos convertidos ao cristianismo no episodio de Atos capítulo 2. O historiador romano Suetônio relata a expulsão de judeus de Roma por volta do ano 49 d.C., pelo imperador Claudio. E a expulsão se dá por uma agitação de um tal de “Chrestus”, que provavelmente é um erro de grafia da palavra “Christus” (Cristo). Com isso, constata-se que os cristãos já estavam em Roma muito antes de Pedro e Paulo. Pedro estaria em Jerusalém para o Concílio, que ocorreu provável mente no mesmo período (49 d.C.).2
Data e lugar da composição
O local da composição da epístola de Paulo aos Romanos é a cidade de Corinto. O apóstolo estava empenhado em levantar uma oferta para a igreja de Jerusalém que passava por dificuldades (Pois a Macedônia e a Acaia tiveram a alegria de contribuir para os pobres dentre os santos de Jerusalém. Rm 15.26), e a cidade de Corinto foi seu ponto de recolhimento. Lá ele ficou durante o inverno, cerca de três meses.3
Outro fator que contribui para essa definição de cidade é a recomendação que o apóstolo faz de Febe (Recomendo-lhes nossa irmã Febe, serva da igreja em Cencréia. Rm 16.1). Ela era uma devota cristã da cidade de Cencréia, que provavelmente foi a portadora da epístola.4
 Com esse conjunto de informações, a epístola do apóstolo Paulo a igreja de Jesus Cristo que se reunia na cidade de Roma foi escrita, provavelmente entre os anos de 55-56 d.C.
Propósito
A auto apresentação de Paulo a igreja de Roma tinha basicamente dois propósitos bem específicos. O primeiro era um fortalecimento mútuo entre eles (Rm 1.11-12) e o segundo um apoio da igreja de Roma para a ampliação de seu ministério no ocidente (Rm 15.24).
Paulo já conhecia muitos relatos da vida piedosa dos cristãos romanos (Rm 1.8). Notícias que fizeram o apóstolo orar, grato a Deus, pela vida dessa igreja. E isso, fez crescer nele o desejo de conhece-los e de compartilhar algum dom espiritual com aquela igreja (Rm 1.11). O que provável mente não eram dons carismáticos, e sim ao fortalecimento  espiritual geral.5
O segundo motivo era o apoio da igreja de Roma com a expansão do evangelho. Paulo demostrou a igreja o seu desejo de levar a verdade de Evangelho até a parte mais oeste do império, a Espanha. Mas para isso ele precisaria do apoio da igreja, com ofertas para custear sua viagem missionária. (Espero visitá-los de passagem e dar-lhes a oportunidade de me ajudar em minha viagem para lá, depois de ter desfrutado um pouco da companhia de vocês. Rm 15.24).
Principais temas da epístola
1.                      Condições dos pecadores (1.18 – 3.20). Nesse trecho da carta o apóstolo faz a descrição da condição de queda do ser humano. No primeiro trecho da carta (1.18-32), o objetivo de Paulo é demonstrar que a humanidade está moralmente arruinada, incapaz de conseguir um veredito favorável no tribunal do juízo divino, em desesperada necessidade de sua misericórdia e perdão.6  E o mundo e práticas gentílicas são abordadas nesse trecho de Romanos para tal comprovação.
Na segunda parte (2.1 – 3.20), Paulo mostra que aqueles que julgam, pois se acham justos, estão na mesma condição dos outros, caídos. Os judeus enquadram-se neste trecho abordado por Paulo. Como ele mesmo fala, Portanto, ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na obediência à lei, pois é mediante a lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado (Rm 3.20).
Portanto, ninguém escapa do juízo divino contra o pecado, nem judeu nem grego, pois todos estão debaixo dessa condenação, todos estão alienados de Deus. Mas como resolver tal problema, se o homem não tem o que fazer? Esse é o segundo tema tratado por Paulo em sua carta. A justificação por meio da fé.
2.                      A Graça de Deus e a Justificação pela fé (3.21 – 5.21). Neste trecho o apóstolo Paulo vai demonstrar como a graça de Deus age para a salvação do homem. Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas, justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que crêem. Não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus (Romanos 3:21-24).
Por meio da graça de Deus o homem tem a oportunidade de retornar ao relacionamento com o seu Criador. Mas não por obediência legal, como Paulo argumenta, mas por um ato de graça de Deus. E, essa graça, é por causa da obra redentora de Jesus Cristo.7
O Sacrifício de Jesus satisfaz tanto a justiça de Deus, quanto o seu amor. A justiça, porque Deus é santo e o pecado não pode relacionar-se com Deus. E o homem em sua condição de queda está destituído da gloria de Deus (3.23). E esse afastamento deixa o homem na condição de morte (Ef 2.1). Mas alguém tem que cumprir a justiça de Deus contra o pecado e Cristo faz isso em seu sacrifício substitutivo. O amor, pois o sacrifício de Jesus resgata o homem de sua alienação. E não só resgata, mas o faz dar um salto existencial. Pois o homem, justificado pela fé, não somente criatura, mas agora filho de Deus. Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida! (Rm 5.10). E o amor de Deus é satisfeito na reconciliação do homem com o Trino.
Mas essa justificação só ocorre por meio da fé em Jesus. Mas fé não é somente crer no sentido de acreditar. Pois acreditar, como fala Tiago, Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios crêem — e tremem! (Tg 2.19). É fé a ponto de ter confiança e segurança total.8 A fé não significa apenas acreditar nos fatos, mas implica a confiança pessoal em Jesus que nos salva.9
3.                      A nova vida na Graça (6.1 – 8.39). Salvos por essa maravilhosa graça, agora o homem desfruta
Continua ...

Referências
1 TOWNS, Elmer; GUTIERREZ, Bem. A Essência do Novo Testamento. Ed Central Gospel, Rio de Janeiro, 2014, p. 113.
2 GUNDRY, Robert Horton. Panorama do Novo Testamento. 3. Ed. atual. E ampl. São Paulo, Vida Nova, 2008, p. 475.
3 HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. São Paulo, Hagnos, 2001, p. 210.
4 Idem 2. p. 478.
5 LOPES, Hernandes Dias. Romanos: o evangelho segundo Paulo. São Paulo, Hagnos, 2010, p. 50.
6 BRUCE. F. F. Romanos: Introdução e Comentário. São Paulo, Vida Nova, 1979, p. 68.
7 Idem 6. P. 82.
8 LOUW, Johannes P.; NIDA, Eugene A. Léxico Grego-Português do Novo Testamento baseado em domínios semânticos. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013, p. 337.

9 GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 593.

sábado, 31 de outubro de 2015

Estudo do Evangelho de João


O Evangelho de João é singular. E é provavelmente o Evangelho que mais levou pessoas a Cristo e mais impactou seus leitores. Com um discurso simples e claro, mas com reflexões profundas, o Evangelho de João tem revelado Jesus Cristo de maneira única. É em João que está o verso mais conhecido e mais pregado de toda Bíblia, João 3.16, “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Mas quem foi João? Por que João escreveu um Evangelho? Qual o seu objetivo? Essas perguntas tentarão ser respondidas ao longo desse estudo.
O autor
João era um dos filhos de Zebedeu, seu irmão era Tiago (Mc 1.19). Juntamente com se irmão, fazia parte dos doze discípulos mais próximos de Jesus, os apóstolos. João é também conhecido como o “discípulo amado”, que reclinou no peito de Jesus na ultima ceia (Jo 13.23).  
O evangelista narra os acontecimentos de maneira muito intensa, demostrando assim, a participação real nos fatos ocorridos. E isso fica ainda mais claro quando a partir de uma análise do evangelho de Marcos vemos a proximidade do autor com a pessoa de Jesus. Ele aparece na ressurreição da filha de Jairo (Mc 5.37), na transfiguração de Jesus (Mc 9.2) e no Getsêmani (Mc 14.33). Ele era um dos três mais próximos de Jesus, como é narrado nos Evangelhos.
Quando ao seu ministério, João era bispo em Éfeso quando escreveu o Evangelho. Gundry narra esse fato da seguinte forma: “[...] o apóstolo João escreveu o quarto evangelho já no termino do primeiro século da era cristã, em Éfeso, cidade da Ásia Menor”.1 
Depois de Éfeso, segundo a tradição, ele é preso pelo imperador Domiciano e levado para a ilha prisional de Patmos. Foi nessa ilha que ele tem a revelação do livro de Apocalipse. Posteriormente ele é libertado e morre de causas naturais em Éfeso, no ano de 103 d.C.
 
Data
A datação do evangelho de João sempre foi um grande problema no meio acadêmico. Muitos acreditavam que ele teria sido escrito por volta do final do segundo século, indo assim contra a tradição, que acredita na composição do mesmo no final do primeiro século. Vejamos alguns argumentos que confirmam a datação conservadora.
A linha direta histórica entre o apóstolo João e Irineu. Irineu foi discípulo de Policarpo, que por sua vez foi discípulo do próprio João. Irineu faz o seguinte relato, “O próprio João, discípulo do Senhor – que também tinha se reclinado sobre o peito de Jesus – também proclamou o evangelho enquanto estava em Éfeso, na Ásia”.2
Outro argumento é o do fragmento papiro Rylands, ou P52, que foi descoberto no ano 1920 no Egito, por Bernard Grenfell.  Sobre esse argumento Gundry faz a seguinte observação: “Esse fragmento de papiro data de aproximadamente 135 d.C., e exige várias décadas anteriores para que João fosse escrito”.3
Portanto, existem muitos argumentos sólidos que colocam a autoria do Evangelho de João próximo ao final do primeiro século, especialmente entre 70 e antes de 90 d.C.4
Cenário Histórico
Como a datação e o local da composição foram tratados no tópico acima, o momento histórico do período supracitado, com a especificidade da região da Ásia Menor, será analisado.
Como foi visto, o autor era um Judeu, que agora se encontra em uma cidade romana, de cultura helênica. E, essa “dualidade” é vista no seu escrito. Mesmo trazendo essa bagagem judaica, João não se vale dela muitas vezes, pois ele quer ser claro para os seus leitores diretos. Mas isso não o impede de fazer uso de citações do Antigo Testamento, como observa Hale: “Embora João faça quantitativamente menos uso do Velho Testamento do que os Sinópticos, ele coloca suas citações em lugares muito estratégico em seu argumento”.5
E como João faz um dialogo claro para ambas as culturas, alguns estudiosos acreditam que parte de seus leitores eram judeus sectários, ou seja, judeus de cultura helênica.6 Quer João tenha escrito para judeus sectários ou para romanos de cultura helênica, o que realmente importa é a potencialidade do alcance do seu Evangelho. Pois fala tanto a judeus, quanto a romanos.
Outro ponto importante daquele período histórico era o surgimento de um gnosticismo, mesmo que de forma embrionária. O gnosticismo era uma espécie de religião de mistério que surgiu de uma mistura de misticismo oriental e filosofia ocidental. Tinha como base de sua crença um dualismo, como: bem e mal; mundo físico e mundo espiritual. E um dos seus pensamentos era que o corpo era uma prisão da alma.
E tal heresia chegou a geram um problema até para a canonização do Evangelho de João. Pois no terceiro século um presbítero chamado Gaio coloca em cheque o Evangelho de João e o Apocalipse, do mesmo autor. Como observa Kummel, “Gaio atribuiu João e o Apocalipse ao gnóstico Cerinto e, assim fazendo, usou como argumento a divergência entre Jo e os sinóticos”.7
Acredita-se que João de alguma forma tenha sido influência pelo gnosticismo8, por usar expressões dualistas como: luz e trevas, verdade mentira, do alto e de baixo, [...]. Mas tais colocações também são encontradas na literatura do judaísmo heterodoxo da comunidade de Qumrã.9
Mas o que deve ficar claro com relação aos escritos de João e o gnosticismo, é o fato de João combater um dos pilares dessa filosofia/religião, a crença em um corpo mau. Devido a tal crença, os gnósticos acreditavam que Jesus não havia vindo ao mundo em carne, pois a carne é má, e Jesus sendo Deus não poderia ficar aprisionado em um corpo. Tal heresia, João já combate no prólogo, Jo 1.1;14, “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. [...]E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. João mostra a verdade do Deus encarnado. Vale ressaltar que é a mesma heresia que o apóstolo Paulo combate em sua carta aos Colossenses. 
Propósito do livro
O evangelista deixa claro o propósito de seus escritos, e o fazem João 20.30,31: Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros sinais miraculosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome. Olhando com mais atenção para o texto, podem ser destacados alguns dos propósitos do Evangelho de João.
A primeira parte a ser destacada é a palavra creiam. Muitos têm discutido sobre o verdadeiro sentido dessa palavra. Se ela é um verbo no aoristo ou no presente. Se tem o objetivo de produzir uma nova fé ou revigorar a fé existente.10 Isso não tem muita importância, como observa Bruce: “o relato de João tem poder de despertar fé nova e reavivar fé já exitente.11 Crer em Jesus é um movimento continuo e perene, quando se inicia não para mais.
A segunda parte a ser destacada é o “objeto” da crença e suas implicações. E João deixa claro que seu propósito é crer em Jesus, mas Jesus na qualidade de Cristo, ou Messias. Aquele que havia sido prometido pelos profetas do Antigo Testamento. O Messias (Jo 4.26), a luz do mundo (Jo 9.5), o pão da vida (Jo 6.48), EU SOU (Jo 8.58). É crer na divindade e humanidade de Jesus, pois Ele é o Verbo encarnado.
Mas Ele não é somente o Messias prometido, Ele é o Filho de Deus. Filho de Deus no tocante ao seu relacionamento com o Pai, como observa Cullmann: “Indiscutivelmente, o título “Filho de Deus” caracteriza de maneira particular e totalmente única a relação entre Pai e Filho”.12 Não no sentido de geração, pois o Pai e o Filho são coeternos, mas no sentido de identidade. Como Jesus falou, “Quem me vê, vê aquele que me enviou” (Jo 12.45 c.f. 14.9). Jesus é a expressão exata do ser de Deus (Hb 1.3).
Mas essa crença tem uma finalidade, um objetivo. Que esta na expressão, tenham vida em seu nome. Crer nesse Messias, no Cristo, no Filho de Deus, é dar um salto existencial. É sair da morte para vida. Do cativeiro para liberdade. Da condenação para a reconciliação. Pois como Paulo fala aos efésios, “Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados” (Ef 2.1). Estão alienados de Deus, sem vontade, sem esperança. Mas Paulo continua, “Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida juntamente com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos” (Ef 2.4,5). Aquele que crê em Jesus agora tem vida nele.
Como os propósitos do Evangelho de João são lidos. Um Messias prometido; um Deus encarnado, que revela a graça e misericórdia de um Pai amoroso; que vem para nos salvar. E toda essa maravilhosa graça, Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).

 


1 Robert H. Gundry, Panorama do Novo Testamento. (São Paulo: Vida Nova, 2008) p. 322.
2 Irineu, Contra heresias 3. 1. 1.
3 Robert H. Gundry, Panorama do Novo Testamento. (São Paulo: Vida Nova, 2008) p. 322.
4 A Essência do Novo Testamento, Elmer L. Towns / Bem Gutierrez editores (Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2014) p. 80.
5 Broadus David Hale, Introdução ao Estudo do Novo Testamento (São Paulo: Hagnos, 2001) p. 156.
6 c.f. Broadus David Hale, Introdução ao Estudo do Novo Testamento (São Paulo: Hagnos, 2001) p. 157, 158 e 159.
7 Wener Georg Kummel, Introdução ao Novo Testamento (São Paulo: Paulus, 1982) p. 249.
8 c.f. Broadus David Hale, Introdução ao Estudo do Novo Testamento (São Paulo: Hagnos, 2001) p. 160.
9 Wener Georg Kummel, Introdução ao Novo Testamento (São Paulo: Paulus, 1982) p. 278.
10 c.f. F. F. Bruce, João: introdução e comentário (São Paulo: Vida Nova, 1987) p. 337.
11 F. F. Bruce, João: introdução e comentário (São Paulo: Vida Nova, 1987) p. 338.

12 Oscar Cullmann, Cristologia do Novo Testamento. (São Paulo: Hagnos, 2008) p. 353. 

sábado, 19 de setembro de 2015

Introdução ao Novo Testamento

Introdução ao Novo Testamento
O Novo Testamento é composto por 27 livros inspirados por Deus, que foram escritos em um período de aproximadamente 50 anos. Esse estudo pretende fazer uma breve introdução ao estudo desse conjunto de livros, estudando o contexto politico, histórico, social e religioso da época tendo em vista uma melhor abordagem interpretativa do livro.
Contexto Histórico e Político.
O Novo Testamento foi escrito num período muito significativo da história antiga, período do poderoso império romano. O império era dividido em províncias, que por muitas das vezes eram governadas por pessoas da própria região. É o caso da Palestina, que estava sob o comando de Herodes, o Grande, que governou de 37 a 4 a.C., que segundo Gundry (2008, p. 40), era um “indivíduo astuto, invejoso e cruel, Herodes assassinou duas de suas esposas e pelo menos três de seus próprios filhos”. Mas apesar de sua crueldade, ele era um hábil governador, que tanto sabia agradar a Roma, quanto seus súditos.
Mas a habilidade governamental não continuou com seus filhos, e seu governo foi divido entre eles. Arquelau ficou governado a Judéia, Samaria e Iduméia, que no futuro, devido a revoltas locais, perdeu seu trono para um governador romano, Pilatos, que teve papel central no julgamento de Jesus; Herodes Filipe ficou com a Ituréia, Traconite, Gaulanite, Auranite e Batanéia; e Herodes Antipas na Galiléia e na Peréia. É Herodes Antipas que tem mais destaque nos Evangelhos, pois foi ele que João Batista repreendeu por casar com a mulher de seu irmão (Lc 3.19), foi ele quem matou João Batista depois de seduzido pela filha de Herodias (Mt 14.6-10), foi ele que Jesus chamou de “raposa” (Lc 13.32), e foi a ele que Pilatos envia Jesus para ser julgado, mas ele mando-o de volta a Pilatos (Lc 23.7-11).
Depois do período em que ocorrem as narrativas dos Evangelhos, outro fato histórico importante no período do Novo Testamento é a destruição de Jerusalém.
O povo judeu sempre esteve em tensão com o governo romano, devido principalmente pela religião politeísta romana e as altas taxas de impostos. Quando o governador da Judeia Gessius Florus espoliou o tesouro do Templo, isso foi a “gota d’agua” para o início da revolta, que durou de 66-74 d.C.. O general Vespasiano fica encarregado de dar fim a revolta, mas como hábil comandante ele dominou os arredores da cidade e aguardou um momento oportuno para marchar sobre Jerusalém. Mas antes de Vespasiano entrar na cidade ele retorna a Roma para assumir o império no lugar Nero, que havia se suicidado. Seu filho, o general Tito, ficou com a tarefa de resolver o conflito. No ano 70 d.C., Tito invade a cidade e destrói o templo, não deixando pedra sobre pedra, como Jesus havia profetizado (Mt 24.2; Lc 21.6).
O que restou dos revoltosos fugiu para Massada, uma fortaleza construída por Herodes, o Grande. Depois de muita resistência os revoltosos sucumbem, como narra Moretti, citando Flávio Josefo (p. 46):
Não havendo saída, o líder Eleazar Bem Yair, chamou seus fiéis soldados e discursou: “Antes morrer do que ser escravizados por inimigos. Livres, deixaremos este mundo”. Durante a noite, 960 homens, mulheres e crianças deram cabo de suas vidas. Num abraço derradeiro, pais de família matavam esposas e filhos afio de espada. Após o que, dez homens foram escolhidos por sorteio para chacinar seus bravos companheiros de luta. O último soldado pôs fogo no palácio e matou-se com a própria espada.¹

Com o fim da revolta, cessou também os sacrifícios, pois não existe mais Templo. Outra revolta tenta ganhar corpo no ano de 135 d.C., logo sendo abafada pelo império romano. Com isso, chega ao fim qualquer ideia de um estado judaico.
Cenário religioso.
O cenário religioso do Novo Testamento é bastante sincrético. Havia a religiosidade greco/romana, que era composta por inúmeros deuses. E cada cidade romana tinha um deus, era uma espécie de “padroeiro” local. Um exemplo disso era a cidade de Corinto, cidade que o apostolo Paulo endereça duas de suas cartas, que tinha como religião principal a adoração a deusa Afrodite,² deusa da sexualidade.
Mas apesar da sociedade romana ter os seus meios de culto e seus deuses, eles não impediam os povos dominados de manterem suas práticas religiosas. A única coisa que era proibido, era o surgimento de uma nova religião. O cristianismo não foi perseguido em seu nascimento, porque acreditava-se que era mais uma forma de ramificação do judaísmo. Quando o governo percebeu que tratava-se de uma nova religião o cristianismo começou a ser perseguido.
Essas ramificações do judaísmo são de interesse para o estudante do Novo Testamento, pois muitas delas são mencionadas nos Evangelhos. Os principais partidos do judaísmo podem ser divididos em: Saduceus, Zelotes, Essênios, Herodianos e Fariseus.
Saduceus – Este era o grupo da nobreza judaica. Era um grupo que tinha o controle do Templo e do Sinédrio Judaico (tribunal encarregado das questões da religião judaica). Eram fundamentalista com relação a Lei, sendo extremamente literais quanto a letra da Lei. O sumo sacerdote era sempre o líder deste grupo.³ Quanto as suas crenças, Gundry nos diz: “Não acreditavam na preordenação divina, em anjos, em espíritos, na imortalidade da alma e na ressurreição”.
Zelotes – Eram um grupo de revolucionários que tinham o seu interesse na independência da nação judaica. Foram os zelotes os principais lideres da revolta contra o governador Florus, que havia roubado o Templo. Revolta essa que termina com a destruição do Templo e a morte de milhares de judeus, como citado anteriormente. Pelo menos um dos apóstolos foi zelote, Simão, o zelote (Lc. 6.15). A visão que esse grupo tinha do messias, era a de um grande guerreiro como foi o rei Davi. Provavelmente foi esse grupo que tentou fazer Jesus rei (Jo 6.10-15). E uma das perguntas de Pilatos a Jesus era se Ele era o rei dos judeus (Lc 23.3).
Essênios – Era um grupo extremamente conservador e observador da lei judaica. Por acreditarem que a sociedade da época estava corrompida, o grupo se retirou para formar comunidades monásticas até o retorno do messias. Viviam de uma maneira muito simples, próximo ao Mar Morto. Alguns eruditos acreditam que os manuscritos de Cunrã fazia parte da biblioteca desse grupo.
Herodianos – Era um grupo muito influente na Galileia e redondezas. Tratava-se de judeus que defendiam a dinastia dos Herodes. Segundo Hale (2001, p.20), “eles baseavam suas esperanças nacionais nessa família e olhavam para ela com respeito ao cumprimento das profecias acerca do Messias”. No Evangelho de Marcos eles conspiram com os fariseus para matarem Jesus (Mc 3.6).
Fariseus – Era o grupo mais destacado daquele tempo. Também o grupo que mais é mencionado nos escritos do Novo Testamento. O seu surgimento é incerto, mas a maioria dos estudiosos defendem que os fariseus são um desdobramento do movimento hasidin (grupo piedoso do 2º século a.C), que teve seu início com Esdras. Em essência, era um grupo separatista e exclusivista judaico (só judeus era o povo de Deus), leal a tradição dos pais e a tradição oral, diferentemente dos saduceus, literalistas. Foram muito resistentes com a helenização da cultura judaica, mantendo vivo a língua hebraica e os costumes ligados a tradição bíblica.
Os fariseus também foram os grandes teólogos de seu tempo. Tendo em vista a manutenção da tradição dos pais, eles estudavam as Escrituras (Antigo Testamento) para encontrar respostas para as influência das novas religiões greco/romanas. Foi nesse período que temas como: anjos, ressurreição, demônios e esperança messiânica foram desenvolvidos.  
Eles controlavam as sinagogas e as interpretações bíblicas de sua época. E devido a tal influência e interpretações extremamente rígidas, muitos judeus eram oprimidos por tais lideres. Esses fardos pesados que os fariseus colocavam sobre o povo foi duramente criticado por Jesus (Mt 23.4).
Vale também destacar que de todos esses grupos, os fariseus foi o único grupo que sobreviveu a guerra judaico/romana. Mantendo assim um remanescente da cultura judaica.
  Cânon do Novo Testamento.
O conjunto de livros que forma o Novo Testamento não caiu do céu no formato que tem hoje nas Bíblias. Eles foram um processo histórico que levou alguns anos para ser estabelecidos como canônicos. Como diz Hale (2001, p. 29), “quando Paulo escreve a Timóteo, dizendo que “toda Escritura é divinamente inspirada...” (II Tim. 3.16), ele não tinha em mente o nosso Novo Testamento”.
Muitos outros escritos do primeiro século concorreram para serem considerados inspirados por Deus. Mas, por que foram descartados e os atuais não? Qual era o critério para avaliar cada livro?
Esses tipos de perguntas não foram feitas pela igreja primitiva no início de sua caminhada. Livros como o Pastor de Hermas, 1ª Clemente, a Didaqué e outros eram lidos pela igreja primitiva. Mas as perguntas só começaram a ser feitas com o surgimento das heresias e das perseguições. Das heresias, pois para defender a fé os pais da igreja precisavam de uma “régua de medir” (Canôn). E as perseguições, pois por quais livros valia realmente morrer.
Com isso alguns critérios foram analisados para que um livro fosse considerado canônico. Os critérios eram:
A apostolicidade dos escritos – Os escritos deveriam vir de um apostolo de maneira direta (Evangelho de João, cartas paulinas), ou indireta (Evangelho de Marcos, que é por muitos o “Evangelho do Apostolo Pedro”, por ter sido um grande influenciador da vida de Marcos).
Conteúdo – O seu conteúdo deveria estar em conformidade com toda a narrativa da salvação. O seu conteúdo espiritual é confiável?
Utilidade nas comunidades – O escrito deveria ser aceito nas comunidades e as mesmas, deveriam testemunhar o valor profético desses livros.
Somente no início do quarto século um cânon começa a ser defino. Pois o imperador Constantino pede 50 cópias em grego dos livros aceitos pela igreja cristã a Eusébio de Cesareia.  Eusébio faz as cópias com os livros que conhecemos hoje, o único que foi copiado, mas em uma parte distinta dos outros foi o Apocalipse. Mesmo Eusébio não aceitando como inspirado, ele teve que se render ao testemunho das comunidades cristãs a respeito do livro. 



¹ MORETTI, Fernando. Massada, a fortaleza de Herodes, o grande. Revista Guia de História Especial, São Paulo, pags. 46-48.
² HALE, Broadus David. Introdução ao estudo no Novo Testamento. Pag. 223.
³ Idem, p. 19.
BIBLIOGRAFIA
·         GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.
·         HALE, Broadus David. Introdução ao estudo no Novo Testamento.

·         MORETTI, Fernando. Massada, a fortaleza de Herodes, o grande. Revista Guia de História Especial, São Paulo: Hagnos, 2001.