Lucas 18.1-8
1 Jesus também
lhes contou uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca desanimar:
2 Em uma cidade,
havia um juiz que não temia a Deus, nem respeitava os homens.
3 Na mesma
cidade, também havia uma viúva que sempre lhe pedia: Faze-me justiça contra o
meu adversário.
4 E por algum
tempo ele não queria atendê-la; mas depois disse consigo mesmo: Ainda que eu
não tema a Deus, nem respeite os homens,
5 como esta viúva
está me incomodando, vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha mais me
perturbar.
6 E o Senhor
prosseguiu: Ouvi o que esse juiz injusto diz.
8 Digo-vos que
depressa lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do homem, achará fé na
terra?
O evangelista
Lucas começa o capítulo 18 falando qual é o propósito de Jesus contar essa parábola,
que é o dever de orar sem desanimar. Logo, fica claro que o objetivo de Jesus
ao proferir essa narrativa parabólica é o de orientar os seus discípulos o
porquê de o dever orar sempre e sem desanimar, sem sentirem-se cansados.
Para isso, Jesus começa a falar em uma
parábola de um juiz perverso, iníquo. Homem esse que não tem valores morais, éticos,
emocionais. Esse juiz era uma pessoa sem o menor temor de Deus, alguém totalmente
ateu em que o poder era exercido sem tem que prestar contas a ninguém. Não havia
homem que ele temesse, não havia instituição que o tolhesse.
Se pensássemos por esse homem nos dias de
hoje talvez o chamássemos de niilista. Pois é em Nietzsche que vemos essa
figura empoderada surgir. Alguém em que em sua visão de mundo sem Deus. Logo,
se Deus não existe eu não tenho que prestar contas a ninguém. Então, não há
moral absoluta e se não há moral absoluta as relações são marcadas pelo poder.
Logo que tem poder é quem manda e esse juiz era a pessoa que mandava e que não
prestava contas a ninguém.
No caminho ou cidade desse juiz surge uma
mulher, uma viúva, que em algum momento havia sido prejudicada. Ela necessitava
de justiça, ela precisa de socorro. Diante da injustiça sofrida, a saída é
pedir ajuda ao juiz da cidade. Alguém que na teoria tem a função de julgar o
seu caso e buscar de forma imparcial a justiça.
A causa da viúva chega ao juiz desumano.
O quadro é o seguinte, uma pobre viúva, o que naquele tempo representava a
escória da sociedade, uma pessoa sem recurso, sem poder, sem força, sem
influencia, uma dependente social. Do outro lado da pintura, um juiz poderoso,
perverso, sem controle, em que o poder é a grande chave de governo e
relacionamento social. Ocorre o obvio, ele ignora a causa da viúva.
A narrativa prossegue falando da insistência
da mulher em buscar justiça para o seu caso. Ela pediu novamente, ele nega. Ela
voltou a pedir, e ele a negar. Não sabemos quantas vezes essa sena se repetiu,
mas ao que tudo indica que foram muitas. O texto diz que ela pedia sempre (v.3), constantemente,
insistentemente, paulatinamente, ela não se cansava.
O juiz, já cansado da insistência da viúva,
decide fazer justiça a causa da mulher. Não por conta de temer a Deus ou a
algum homem (v.4), mas simplesmente pelo perseverante pedido dessa mulher.
Depois de contar essa intrigante parábola,
Jesus olha para seus discípulos e fala: Ouçam ou considerem. Jesus usa uma
expressão grega (Εἶπεν) que chama os discípulos a refletirem nessa parábola, algo como: “prestem
atenção”, “ouçam com cuidado”, “considerem o que foi dito”.
Jesus está levando os discípulos a refletirem
no fato de uma mulher pobre e sem expressão social, com a sua insistência e
dedicação a sua causa, mudou a decisão de um juiz perverso, mesmo ele não tendo
que fazer isso, mas simplesmente porque ela insistiu. Aí vem a pergunta: E
Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite clamam a ele, mesmo
que pareça demorado em responder-lhes? (v.7)
O Senhor não é
como esse juiz insensível, perverso e injusto. A sua natureza é amor, é
justiça. A relação de Deus com a sua criação não é baseada no seu poder, mas na
manifestação de seu amor e de sua graça. Jesus é a maior prova desse amor. Se
mesmo sendo inimigos de Deus, pecadores que amaram
as trevas em lugar da luz (Jo 3.19). Deus enviou Jesus como prova de seu
amor (Jo 3.16).
Esse Deus também
é justo. E, mais uma vez, a prova disso está em Jesus. Para que a justiça seja
feita, o que não tinha pecado [Jesus]
Deus fez um sacrifício pelo pecado em
nosso favor, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus (2Co 5.21). Deus
não é como o juiz da parábola, Ele é justo. Então, por que não ter isso como
motivo para continuar a orar?
No verso sete
Jesus fala que alguns esmorecem pela aparente demora de Deus em responder. Um
esmorecimento que é fruto de uma ansiedade impaciente, desassossegada, agitada,
irritadiça. A impaciência pode ser uma arma perigosa contra a nossa oração. O
exemplo da viúva deve marcar a nossa vida de oração. Ela não desistiu, ela
continuou a interceder por sua causa.
Jesus destaca
no início do oitavo verso que Deus não age demoradamente, mas com rapidez e assertividade.
Deus não está dormindo ou cochilando (Salmo 121). Ele é o vigia atento de seu
povo, de seus escolhidos (v.7). Deus age dentro de seu tempo, do seu propósito,
para o nosso melhor benefício. Tudo isso, dentro de sua soberana perspectiva, e
não de acordo com as nossas vontades e desejos.
O texto se
encerra de forma inquietante. Com a seguinte pergunta: Contudo, quando vier o Filho do homem, achará fé na terra? (v.8).
Será que seremos dominados pela impaciência até que ela se torne em descrença?
Será não oraremos mais pelo fato de não confiarmos mais no caráter de Deus?
Será que a nossa fé será solapada? Não deixemos isso acontecer.
Portanto,
sabedores que devemos orar sem nunca esmorecer, sem nunca perder as forças, sem
desanimar. Dediquemo-nos a constante oração na confiança de que estamos levando
a nossa oração a um Deus amoroso, santo, justo e bom, que agirá rapidamente
segundo os seus propósitos. Busquemos incessantemente a Deus pela oração sem
perdemos a nossa fé para a ansiedade.
Soli Deo gloria!
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